BPN, UM MAU NEGÓCIO PARA O ESTADO
Do artigo anterior sobre a crise financeira, depreende-se que a decisão do Governo de nacionalizar o BPN talvez tenha sido um mau negócio para o Estado Português. E com as notícias que regularmente têm vindo a público cresce a suspeita sobre as principais razões da nacionalização.
Sabe-se pouco sobre o BPN, a opinião pública sabe pouco. Sabe-se que aquilo é um banco montado por gente que serviu Cavaco, com o dinheiro inicial, pouco, de alguns construtores civis do centro-norte do país. Depois há toda uma série de negócios pouco claros ou mesmo muito escuros que foram sendo feitos por Oliveira e Costa sempre com a cumplicidade e participação de um ou mais administradores.
E assim o Banco funcionou durante cerca de 10 anos, com os lucros teoricamente sempre a crescer e o activo líquido a aumentar, até que, simultaneamente com o desencadear da crise financeira, mas não necessariamente em consequência dela, o Banco se viu confrontado com um passivo de cerca de 700 milhões de euros para o qual não tinha as coberturas adequadas. Passivo este resultante de empréstimos a accionistas, alguns deles ministros de Cavaco, e “imparidades” detectadas no Banco Insular.
Face à gravidade da situação, o presidente do BPN, Oliveira e Costa, ex-secretário de Estado de Cavaco, demitiu-se e uma nova administração presidida por Miguel Cadilhe, tomou posse. Como sempre acontece com qualquer neoliberal que se preza, a primeira ideia que ocorreu à nova administração do Banco foi pedir ao Estado que lhe tapasse aquele “buraco” com um “empréstimo” de 800 milhões de euros.
O Estado, já depois de o Banco de Portugal ter deixado chegar a situação do Banco ao ponto a que chegou, recusou o pedido e nacionalizou o Banco para “salvar os depositantes e o sistema bancário”.
A verdade é que quando a nacionalização foi feita, já o Estado tinha lá depositado muitas centenas de milhões de euros da segurança social, depósito entretanto parcialmente levantado, e já a Caixa Geral de Depósitos havia também emprestado várias centenas de milhões de euros.
Por que razão actuou o Estado deste modo, sabendo, como não poderia deixar de saber, dado o conhecimento que o Banco de Portugal tinha da situação, que o estado do BPN era de falência eminente? Esse é o mistério que o Governo não desvenda e que tenta a todo o custo que os deputados desconheçam, inviabilizando sistematicamente os pedidos de audição parlamentar de antigos e recentes responsáveis pela administração do Banco.
Uma coisa é certa, se o Governo tivesse deixado falir um banco de pequena dimensão como é o BPN, os contribuintes portugueses teriam ficado muito menos onerados (apesar da tonta declaração do Ministro das Finanças em Bruxelas, de que o Governo cobriria a totalidade dos depósitos bancários em caso de falência de algum banco a operar em Portugal) do que vão ficar com a sua nacionalização. E pior ainda, esta nacionalização fragiliza e agrava ainda mais a situação da Caixa Geral de Depósitos, que cada vez mais parece estar a desempenhar o papel de pára-raios do sistema bancário português. E como a situação só poderá agravar-se, como muito em breve infelizmente se vai ver, o mais provável é que o pára-raios não aguente tanta “descarga”!
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