domingo, 1 de março de 2009

AINDA A ESCOLHA DE VITAL MOREIRA



A MAIS VALIA TAL COMO SÓCRATES A ENCARA

Gomes Canotilho disse um dia que Vital Moreira, como intelectual, era uma força da natureza. Completamente de acordo, supondo – e suponho correctamente – que se tratava de um elogio. Com um acrescento: como intelectual descritivo ou sistemático. Com reservas, enquanto intelectual prescritivo ou axiológico.
Em termos muito simples, creio poder dizer-se que o grande poder de sedução e de encantamento de um intelectual descritivo ou sistemático, nomeadamente se a sua área de conhecimento se situa no domínio das ciências sociais, como é o caso de VM, é a sua capacidade para interferir nos processos sociais, mantendo relativamente a eles uma posição aparentemente semelhante à dos cientistas da natureza sobre o objecto da sua investigação.
O intelectual prescritivo ou axiológico, de que é exemplo comum o intelectual empenhado, corre riscos que o anterior contorna, e que somente podem ser atenuados por uma constância de propósitos e uma coerência de princípios que nem sempre é fácil manter ao longo da vida, nomeadamente se este tipo de intelectual, sob a constante pressão de “estar a par”, se deixa substancialmente influenciar pelas “modas” de cada época.
É neste plano que a actuação de VM tem sido politicamente alvo das maiores críticas. Não que por via delas seja posta em causa a sua extraordinária pujança intelectual ou a sua vasta cultura. Não é disso que obviamente se trata. O que interessa analisar é a sua capacidade enquanto intelectual empenhado para interferir nos processos sociais e contribuir com a sua acção para a transformação da sociedade.
O intelectual empenhado que mantenha ao longo da vida coerência de propósitos e coerência de princípios pode ter uma área de actuação mais ou menos restrita, consoante o âmbito do consenso que consegue gerar, mas está seguro de que mantém uma audiência que o admira e respeita. Porque ele se mantém substancialmente o mesmo, quer se encontre na crista ou no cavado da onda. Pelo contrário, o intelectual empenhado que vai sucessivamente mudando de posição, desmentindo hoje o que ontem encarniçadamente defendeu, incompatibilizando-se agora com aqueles que antes acompanhou, corre o risco de perder auditório em todo o lado e de ver drasticamente reduzida a sua margem de influência.
Esta menos valia do errante intelectual empenhado não decorre tanto ou necessariamente de um julgamento moral desfavorável, mas antes da constatação de uma errada apreciação e análise dos fenómenos sobre que pretende interagir. A frequente mudança de posição cria no auditório desconfiança relativamente à sua capacidade de interpretação dos fenómenos observados.

3 comentários:

jvcosta disse...

Desde o anúncio da candidatura, ainda não ouviou li um comentário discordante: VM, eleitoralmente, é redutor. Estranha escolha de Sócrates, habitualmente mais hábil neste aspecto. E nem acredito que seja "pagamento" de favores, coisa que não se usa em política e muito menos por parte de Sócrates.

JM Correia Pinto disse...

Obrigado, João, pelo comentário.
Creio que a preocupação de Sócrates, mesmo em relação às europeias, é o Bloco. E ele acredita que o VITAL será capaz de ganhar votos ao Miguel Portas ou, pelo menos, não o deixar expandir-se para o lado do PS.
É evidente que o VITAL não é um adversário qualquer. Espero que a esquerda se prepare bem...
CP

António Abreu disse...

Hoje VM é um europeísta que assenta numa concepção federal da Europa, com uma Constituição europeia correspondente, advoga a sua militarização associada a uma efectica política externa comum.
Assumiu combates recentes pelas chamadas reformas que o levou a enfrentar os docentes e uma administração pública com razões para estar inquieta.
Seguramente não será ao eleitorado de esquerda que irá ser sedutor. Bem pelo contrário, será com ele que mais vai conflituar.