sexta-feira, 8 de maio de 2009

AINDA SOBRE O BLOCO CENTRAL


O QUE SE PERSPECTIVA

A menos que o CDS alcance uma votação que lhe permita fazer maioria com o PS ou com o PSD - solução que no actual contexto não entusiasmaria por aí além a direita ligada ao grande capital - a formação de um governo de Bloco Central (PS/PSD ou, menos provável, PSD/PS) é cada vez menos uma hipótese teórica. Tanto o PS como o PSD temem que desta solução resulte uma forte erosão eleitoral, em benefício dos partidos de esquerda e do partido de direita, e receiam também uma "traição" à Cavaco, que permitiria ao partido com capacidade para romper como seu próximo passado e com os compromissos assumidos capitalizar, mediante uma mudança de líder, parte do descontentamento popular.
Este temor está muito mais presente no PS do que no PSD, por ter uma tradição de continuidade que o PSD manifestamente não tem. Sendo porém pouco provável a repetição da história, e estando os dois partidos cada vez mais pressionados pelos grandes interesses e por outros sectores que já perceberam (e anuíram, como se de uma fatalidade se tratasse) quem vai pagar a presente crise, a formação de um governo de Bloco Central, após as legislativas de Outubro, é um cenário para o qual todos nos devemos preparar.
A ideia já está fazendo o seu curso (comentadores de direita - quase todos -, Presidente da República, patronato, etc.) e começa a ser divulgada como um acto de grande patriotismo. Simultaneamente, os divulgadores ligados aos grandes interesses e os próprios representantes directos destes interesses começam também desde já a perspectivar o programa desse governo.
O objectivo é dar o golpe de misericórdia no que resta do Estado social. Há uma enorme dívida a pagar. Por um lado crónica, resultante das nossas deficiências estruturais; por outro lado, induzida pelo acto de pirataria que gerou a actual crise financeira. O dinheiro que o Governo tem lançado a rodos (sem critério nem fiscalização) sobre as empresas, mais o resultante das as dívidas que se propõe contrair, vai ter de ser pago; e, como se depreende desde já muito bem pela conversa dos que falam sobre o assunto, caberá aos trabalhadores em geral arcar com essa dívida.
Uma intensa campanha de propaganda fará ver a todos que não há dinheiro para manter um serviço nacional de saúde, dir-se-á que a segurança social está falida em consequência da crise, sendo, por isso, necessário privatizá-la; liberalizar-se-á o despedimento de trabalhadores para permitir às empresas a recuperação económica, benéfica para todos, e por aí adiante. O capital ficará obviamente intocável e restaurado dos abalos sofridos…porque ele é a alma do sistema!
O PS acabará por ceder em quase tudo, como sempre tem acontecido desde o 25 de Abril, tendo em conta o nível de exigências em cada momento formuladas.
É perante os efeitos de um cenário desta natureza que os dois partidos, ao anteciparem o que virá a seguir, breve concluirão que apenas têm duas saídas:
Uma é, feito o essencial, abandonar o projecto e posicionar-se contra, como fez Cavaco em 1985;
Outra é alterar radicalmente o sistema eleitoral, substituindo-o por outro que permita a formação de maiorias à revelia do voto popular.
Pode é acontecer que a capacidade de resistência dos supostos perdedores supere todas as expectativas e vá muito para além das habituais manifestações de descontentamento…

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