segunda-feira, 25 de maio de 2009

AS ELEIÇÕES EUROPEIAS



VISTAS À DISTÂNCIA

Enquanto o cabeça de lista do PS às eleições europeias se esforça por convencer os militantes do partido que é tão socialista como o mais profundo PS, esforço que só pode ser interpretado como confirmação do receio cada vez mais justificável de evitar a perda de votos dentro da própria casa, o candidato do PSD, entusiasmado com o resultado das sondagens, que o dão muito perto da vitória ou com possibilidade de a ela chegar, se esforça por marcar diferenças em questões de política interna ou relativas à execução da política comunitária.
Apesar de as sondagens atribuírem aos dois partidos de esquerda um resultado conjunto razoável, ele será porém insuficiente para evitar que o PSD se sinta suficientemente moralizado para se lançar na corrida às legislativas com dinâmica vencedora. Raramente terá havido condições mais vantajosas do que as actuais para, a propósito das eleições europeias, fazer das forças de esquerda um factor incontornável da governação deste país.
Sendo a construção europeia resultado da acção política de partidos como o PS e o PSD e tendo a actual crise evidenciado o insucesso das políticas que nas últimas décadas, nomeadamente as duas últimas, aqueles partidos e outros ideologicamente idênticos defenderam e puseram em prática, estas eleições constituiriam o momento ideal para os responsabilizar por igual pela actual situação. Insistir excessivamente em questões de política nacional, acaba por indirectamente favorecer um dos grandes responsáveis pela crise: o PSD. Com o inconveniente de este favorecimento se poder traduzir ainda mais negativamente no resultado das próximas legislativas.
De facto, a fraca prestação eleitoral do candidato socialista, esperada e sem surpresas, aliada à discussão intensiva das questões internas, poderá por ter como efeito a saída do PSD da crise em que está mergulhado praticamente desde a partida de Cavaco, o que não deixaria de constituir mais uma das muitas ironias em que a história é fértil: ser o maior defensor da governação socialista o mais directo responsável pelo ressurgimento do seu principal adversário eleitoral!

2 comentários:

M.C.R. disse...

Não espero de um candidato "independente" que a todo o momento se afirma tão ou mais socialista do que os seus auditores que ponha em questão a governação do país. Também não espero que se atreva a contrariar a "linha geral" do partido que elegerá por muito que discorde em pequenos inúteis aspectos.
A questão que levantaria é esta: porque é que o escolheram? Não acreditando, pelo menos em teoria, que seja um pagamento de favores pela sistemática campanha feita em jornais de há uns anos a esta parte, pergunto-me que mais valia trará este candidato á lista socialista. A lista de resto é medíocre, vejam-se apenas e para confirmação as prestações da drº Edite Estrela.
e a confusão que se faz entre combate ao desemprego e as grandes obras públicas (Tgv, por todas) que são apresentadas como panaceia de vários males, investimento reprodutivo e fonte indiscriminada de trabalho (ouvi isto ontem, durante uma sessão em Aveiro transmitida pela querida televisão), Será que o candidato acredita no que diz? A julgar pelo seu ar enfastiado diria que não. então poque o diz?
O Ps ao colocar-se à defesa (e coloca-se por que lá no fundo não é insensível ao rumor da rua) fará sempre o papel de aliado a contr-coeur do PSD. E isso porque finalmente disputam a mesma fatia de eleitorado.

JMC Pinto disse...

Pois é Marcelo, no post que escrevi cerca de duas ou três horas depois de anunciado o cabeça de lista do PS às eleições europeias, também me interrogava sobre as razões da escolha de um candidato incapaz de ganhar um voto à esquerda ou de aguentar um voto à direita.
O Candidato está fazendo a dura prova da vida, pela primeira vez confrontado com uma realidade bem diferente da que o tem acompanhado desde há várias décadas. Afinal, o mundo não é somente o Instituto Jurídico, nem o povo se resume ao Sr. Beltrão!