sexta-feira, 22 de maio de 2009

LULA NA CHINA


ABANDONO DO DÓLAR NAS RELAÇÕES BILATERAIS?


Sob a presidência de Lula da Silva, o Brasil tranquilamente, sem triunfalismos excessivos, mas com segurança vai desempenhando o seu papel de grande país emergente a caminho da grande potência em que, mais tarde ou mais cedo, inevitavelmente se tornará.
Grande potência económica, comercial e demográfica, mas também grande potência militar se e quando as circunstâncias o possibilitarem e exigirem.
O que verdadeiramente impressiona nos países emergentes demograficamente fortes é o optimismo com que encaram o futuro, seguramente fruto do enorme peso representado pelas camadas jovens, contrastando com o sentimento reinante nos países “velhos” onde a principal preocupação parece ser conservar as vantagens e os privilégios do passado.
A recente viagem de Lula à China – a segunda do seu mandato – é bem o exemplo da confiança com que os dois grandes países encaram o futuro nestes tempos de crise. Mais de dez acordos foram assinados, tendo a China com os seus extraordinários recursos financeiros proporcionados por uma balança comercial altamente superavitária assumido o compromisso de financiar a exploração petrolífera da Petrobras nos novos campos de petróleo a troco da remessa de 150 mil barris por dia no primeiro ano e de 200 mil nos nove anos subsequentes.
A China é hoje o maior parceiro comercial da América Latina, e obviamente também do Brasil, tendo ultrapassado os Estados Unidos nos primeiros meses deste ano. Este facto, que marca uma viragem muito importante das relações da América Latina com o resto do mundo, não é certamente estranho à proposta apresentada por Lula ao seu homólogo chinês, na reunião de Abril do G20, e agora reiterada no decurso da sua visita à China: abandono do dólar nas transacções comerciais entre os dois países e sua substituição pelas respectivas moedas nacionais, real e yuan.
A ideia pode não colher a aceitação da China nos tempos mais próximos, dadas as suas gigantescas reservas em dólares, e a sua estratégia cada vez mais evidente de consolidação do yuan como grande moeda regional, um pouco à semelhança do euro na Europa, mas nem por isso deixa de reflectir o sentimento corrente nos países emergentes de que a hegemonia do dólar está a chegar ao seu termo.
Por outro lado, a convicção de que a actual crise, desencadeada pela crise financeira americana, está intimamente ligada ao dólar, contribui igualmente para aquele declínio. É caso para dizer que “Bretton Woods is over” ou quase e que com ou sem acordos multilaterais prévios o dólar vai deixando de ser aquilo que era.

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