segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O COMUNICADO DE CAVACO SILVA SOBRE O BPN



O QUE PRETENDE CAVACO?


Cavaco Silva mandou publicar ontem à tarde um comunicado, emitido pela Presidência da República, no qual expressa a sua indignação por ver o seu nome cada vez mais associado ao escândalo BPN. E depois dá a conhecer aos portugueses um conjunto de factos para demonstrar que nunca esteve directa nem indirectamente ligado àquela instituição: nunca nela desempenhou qualquer função, não é nem nunca foi seu accionista, nunca lhe pediu emprestado qualquer dinheiro, aliás, aproveita para esclarecer que nem um euro sequer deve a qualquer banco, etc.. A única ligação de Cavaco ao BPN é um depósito bancário que lá tem, à semelhança do que acontece noutros bancos portugueses.
Todos os que têm acompanhado de perto, através dos media e dos debates parlamentares, o “caso BPN” não podem deixar de estranhar este comunicado, porque nunca em qualquer jornal, rádio ou televisão se afirmou ou sequer insinuou qualquer dos factos esclarecidos pelo Presidente da República.
Cavaco diz que está indignado, mas se há alguém que tenha fortes motivos, mais do que Cavaco, para indignação são os portugueses em geral e os contribuintes em particular. E é fácil explicar porquê.
Em consequência das irregularidades e dos alegados crimes cometidos no BPN, o Governo, numa decisão porventura discutível, mas já irreversível, decidiu nacionalizar o banco para evitar a sua falência. Esta decisão, além de garantir o pagamento do passivo do banco, aos credores em geral e aos depositantes em particular, pode ainda traduzir-se numa vantagem para os accionistas, que, obviamente, num processo de falência nada teriam a receber em virtude de o activo do BPN ser francamente inferior ao seu passivo.
Nesta operação de resultado muito incerto, já que o BPN pode nunca mais recuperar, o Estado já comprometeu, com dinheiros públicos, mais de mil milhões de euros. Dinheiro cuja aplicação torna os portugueses mais pobres e, a prazo, os contribuintes mais onerados.
E a verdade é que os portugueses em geral nada têm a ver com a gente que esteve à frente dos destinos do BPN. Os portugueses nunca manifestaram a essas pessoas uma especial confiança para ocuparem lugares de relevo na sociedade portuguesa. Até terão acreditado que, por muitos deles já terem exercido importantes funções públicas, onde tiveram que gerir e tomar decisões envolvendo vultosas verbas públicas, estavam acima de qualquer suspeita. Infelizmente, enganaram-se. Por isso, estão indignados.
Cavaco Silva, embora não tenha rigorosamente nada a ver com a gestão do BPN, nem com as suas irregularidades ou alegadas práticas criminosas, já concedeu, enquanto Primeiro-Ministro e presidente do PSD, a sua confiança a algumas das pessoas suspeitas de envolvimento no caso BPN. A uns como Ministros ou Secretários de Estado, a outros como deputados. Essa a verdadeira razão da irritação de Cavaco. Pois, mas esse não é um problema que os portugueses possam resolver ou que possa ser atirado para cima dos portugueses!

1 comentário:

FJCoutinhoAlmeida disse...

Zé Manel,

Foste o melhor aluno do meu curso ...
Serviste já o País em funções e em tempo em que a Política tinha nobreza ...
Foste um Alto Quadro da Administração Portuguesa em funções na Cooperação/M.Negócios Estranjeiros ...
As tuas lucidez e grande cultura produzem comentários, especialmente na área política, de uma acuidade impressionante.
Nunca é demais desmascarar uma legião de políticos medíocres, incoerentes, vendidos, enfim, sem-vergonha.
"Nunca te doam as pontas dos dedos com que bates nas teclas", ao escreveres ...
Que pena este blogue não ser tão conhecido como devia ...
Um abraço do
Coutinho