O GRANDE INVESTIMENTO PÚBLICO NÃO RESOLVE A SITUAÇÃO A CURTO PRAZO
Na sequência das medidas tomadas para combater a crise financeira, o governo no quadro do chamado pacote comunitário tomou um conjunto de medidas para fazer face à crise económica. À que já ai está e à que ai vem.
A crise económica pode sintetizar-se nas palavras do Governador do Banco de Espanha que ontem aqui transcrevi: o mercado interbancário não funciona, os consumidores não consomem, os empresários não contratam, os investidores não investem e os bancos não emprestam.
O governo português assentou o seu plano de combate à crise numa retórica emprestada de Paul Krugman (que adiante analisaremos) e num conjunto de medidas entre as quais sobressaem como determinantes o grande investimento público. Estas medidas são fundamentalmente viradas para as empresas e quase nada ou muito pouco para as pessoas.
Se é certo que a superação da crise passa pelo relançamento da procura, tanto interna como externa, e sendo igualmente certo que a capacidade para influenciar o relançamento da procura externa é quase nula, temos de concluir que as medidas adoptadas pelo governo não vão a curto prazo contribuir sequer para atenuar a situação, uma vez que elas vão ter a curto e médio prazo um efeito diminuto sobre a procura interna.
O investimento público é certamente uma medida adequada numa conjuntura de completa retracção, mas isso não significa que todos os investimentos produzam o efeito esperado (um mau investimento é sempre um mau investimento, qualquer que seja a conjuntura) nem que os efeitos que deles se esperam se produzam a curto prazo: quanto maior for a sua complexidade e dimensão mais tardios eles serão.
O unilateralismo do governo no combate à crise económica não augura nada de bom. O governo deveria equilibrar o investimento público necessário, pequeno e grande, com medidas de outra ordem destinadas a garantir um acréscimo do poder de compra às camadas mais numerosas da população. Menos impostos directos para os rendimentos baixos e médios e mais medidas de natureza social para os directamente atingidos pela crise. Fazendo incidir o essencial da sua política no grande investimento público sabe-se antecipadamente quem vai ficar a ganhar e atende-se muito pouco a quem já está a perder.
Curiosamente ou talvez não, Sócrates tem acompanhado o anúncio das medidas governamentais de combate à crise de uma retórica assente naquilo a que se poderia chamar um extremo pragmatismo. Diz ele, em épocas de crise tem se actuar rapidamente porque o erro decorrente da inacção é sempre bem mais grave do que o erro resultante de se actuar mal. E depois acrescenta: nestas ocasiões temos de pôr de parte os nós ideológicos que nos enredam e fazer fluir o sistema com a intervenção do Estado.
Ideias interessantes estas que Krugman defendeu na América para obrigar Bush a actuar contra os seus fundamentos ideológicos. Mas ao serem retomadas linha por linha, conceito por conceito, pelo responsável máximo do “grande partido socialista português popular e moderado” nós ficamos a compreender que o constrangimento que tais medidas lhe causam apenas é superado pelos efeitos que delas se espera.
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