quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

MAIS UNS QUANTOS ABANDONARAM PORTAS

SERÁ ASSIM TÃO GRAVE?

Os jornais e as televisões deram grande relevo à debandada de mais uns quantos militantes do CDS-PP, dias depois de Paulo Portas ter sido reeleito presidente do partido.
Alguns dos que exprimiram publicamente os motivos desta dissidência falaram em incompatibilidade de projectos e num insuportável poder pessoal, enquanto obstáculo à formulação programática de causas compatíveis com a génese do partido, como razões fundamentais da dissidência.
O CDS nasceu num contexto muito específico da Revolução de Abril (fase que antecedeu o 28 de Setembro), impulsionado por certos sectores das Forças Armadas que entendiam que era preciso dar expressão política aos herdeiros e apoiantes de antigo regime que aceitassem jogar o jogo democrático.
Ninguém melhor colocado para o fazer do que o camaleónico Freitas do Amaral, que passou de discreto, mas convicto, apoiante do salazarismo a fervoroso entusiasta de Marcelo Caetano, de quem foi, de resto, discípulo dilecto, para logo a seguir ao 25 de Abril o renegar com a convicção suficiente de quem nas funções de Conselheiro de Estado se voluntariava para redigir algumas das leis fundamentais dos primeiros passos da Revolução. O partido, concebido “rigorosamente ao centro”, para espantar eventuais conotações, logo se tornou “socialista personalista”, quando a Revolução se acelerou, para depois ir gradualmente ocupando o seu espaço natural à medida que o espectro da revolução se esfumava, até se tornar num verdadeiro partido de direita no quadro da coligação com o PPD, Aliança Democrática.
A partir da perda do poder, que ocupou, minoritariamente, por duas vezes nos dez primeiros anos da democracia, primeiro, em coligação governamental com o PS, depois, em coligação eleitoral com a PPD-PSD, o partido, ao qual entretanto se tinham acoitado todos os herdeiros do salazarismo, entrou numa crise profunda, com sucessivas mudanças de liderança, de estratégia e até de bases programáticas, da qual verdadeiramente nunca mais saiu, apesar do sopro vital trazido por Paulo Portas.
Após a partida de Freitas do Amaral, derrotado por uma estratégia sem sentido, embora num quadro político-eleitoral com poucas alternativas, o partido oscilou entre um liberalismo no plano económico, defendido por Lucas Pires, que, embora politicamente oriundo do salazarismo, nele lucidamente via o novo campo de expansão da direita, e um certo retorno ao passado mais remoto protagonizado por Adriano Moreira que sempre se valeu do sua pretensa dissidência com Salazar para politicamente se afirmar em democracia, até se situar durante um longo período no populismo de Manuel Monteiro, que Portas no Independente apoiava, atacando os demais.
Com a substituição de Monteiro por Portas, num quadro de traições mal disfarçadas, o CDS voltou a oscilar no rumo a seguir, muito em consequência de uma conjuntura político-eleitoral subsequente ao cavaquismo que não lhe dava a mínima possibilidade de se afirmar como força de poder. E dentro dele, não obstante a hegemonia cada vez mais marcante de Portas, continuavam a subsistir três linhas que conviviam sem se aceitarem, mas também sem forças para se guerrearem: os liberais; os passadistas; e os que, liderados por Portas, procuravam tudo o que fossem nichos eleitorais de mercado onde pudessem afirmar-se e somar votos, desde os feirantes aos ex-combatentes passando pela exaltação da insegurança e da soberania num discurso muito próximo da xenofobia, embora ditado por razões puramente eleitorais.
No momento em que a primeira experiência socialista pós cavaquista claudicou, a estratégia de Portas, puramente baseada na busca do poder, resultou e o PSD foi obrigado a entender-se com ele, não obstante o belicoso contencioso existente, principalmente com os amigos e apaniguados de Cavaco. Falhada ao fim de três anos esta hipótese de permanência do poder, mais por culpa do PSD do que do CDS, que nunca abriu brechas na coligação apesar de ter passado por momentos muito difíceis, Portas “emigrou”, sem nunca verdadeiramente se ausentar e acabou por entregar internamente o poder aos herdeiros distanciados do passado. Mas por pouco tempo. Por pressão da sua gente, que via os lugares em perigo no quadro de uma nova disputa eleitoral, Portas regressou e percebendo, por um lado, que o PSD está completamente “entalado” e sem margem de expansão pela política desta nova experiência PS, e, por outro, que a usura do poder e os efeitos da crise podem erodir parte do eleitorado que assegurou a maioria absoluta ao PS, prepara-se para ser novamente poder, desta vez em coligação com o PS. Para tanto apenas precisa de mais alguns votos e nada mais.
As doutrinas passadistas dos que agora saíram e de outros que ainda lá ficaram não lhe fazem qualquer falta até às eleições. Se as coisas lhe correrem bem, de que doutrinas precisa Portas para governar em coligação com o PS? Precisa apenas é DE lá chegar e quanta menos gente passadista do CDS tiver, tanto melhor.

1 comentário:

FJCoutinhoAlmeida disse...

O Autor deste 'post' mostra que não tem memória curta.
É bom que isto fique para 'memória futura' ...