sexta-feira, 5 de junho de 2009

AINDA A CAMPANHA DO PS E O BPN


O QUE TODO O MUNDO PERCEBE

A sondagem de hoje, da Católica e a de ontem, da Marktest, demonstram que algo vai mal na campanha do PS. Mais correctamente: que algo piorou, desde que a campanha começou.
Toda a gente sabe que o PS partia para estas eleições em condições difíceis. Pela ordem natural das coisas, se o PSD estivesse minimamente unido e não constituísse um partido tão próximo de um reino feudal como na realidade constitui, o PS perderia as eleições. Com o PSD na situação em que está, a vitória do PS parecia assegurada sem dificuldades de maior.
Certamente que o PS e o PSD têm, à escala nacional, uma quota-parte de responsabilidade na crise internacional actual. Tanto um partido como outro tudo fizeram, enquanto governaram, para colocar o país a la page com o que de mais “moderno” se passava lá fora em matéria de liberalização da economia, desregulamentação, diminuição do papel do Estado, entrega dos sectores estratégicos da economia à ganância do lucro privado, discriminação do trabalho como força social e secundarização das classes trabalhadoras no processo produtivo. O discurso de ambos os partidos foi e continua a ser um discurso completamente orientado para as empresas, no qual, sem pudor, como a coisa mais natural do mundo, se concebe e se defende o Estado como instituição ao serviço exclusivo do capital. E no que respeita ao processo de construção europeia, a sintonia ainda é maior. Teoricamente, não haveria portanto razões para beneficiar um partido em detrimento de outro já que ambos são por igual responsáveis pelo que se passa na sociedade portuguesa, servindo as bravatas que aqui e ali eclodem entre os seus dirigente apenas par disfarçar a grande consonância existente entre ambos sobre tudo o que é essencial. Esta grande convergência de propósitos não significa que não haja, como na realidade há, uma luta intensa pelo exercício do poder de que as bravatas sobre questões menores constituem o exemplo mais significativo.
Evidentemente que a grande força do poder ideológico, que se manifesta em todos os domínios da sociedade e sem o exercício e os efeitos do qual não seria possível manter a coesão social, faz com que as coisas sejam vistas de forma muito diferente daquilo que na realidade elas são pela generalidade dos eleitores. E é esse poder que, no fundo, assegura a alternância entre o PS e o PSD.
Exactamente por isso é que certo tipo de bravatas não cabem neste jogo e quando são usadas por uma das partes elas acabam por ter um efeito completamente diferente do esperado perante aquelas pessoas – e são a larga maioria – que, apesar de sujeitas ao tal poder ideológico - que não lhes permite ver a realidade como na realidade ela é -, nesses casos não se deixam enganar tal a evidência dos factos em questão.
Assim aconteceu, se bem interpreto, com a tentativa de ligação do caso BPN ao PSD. Certamente que o que se passou no BPN releva do gangsterismo financeiro e também é verdade que muitos dos que lá estavam desempenharam papéis importantes no PSD. Só que nestas matérias o eleitor sabe que comportamentos igualmente reprováveis são comuns a gente do PS e que essa gente se aproveitou ou aproveita do aparelho de Estado, a qualquer nível, para colher vantagens pessoais. E sabe também que as tais situações de gangsterismo financeiro somente foram possíveis porque quem fiscalizava fechou completamente os olhos a todas as práticas ilícitas e duvidosas. No mínimo, fê-lo por negligência grosseira, já que o dolo eventual, nestas circunstâncias, é muito difícil de provar. Mas já não é difícil provar que havia, por parte da entidade reguladora, uma predisposição sociológica e política, reiteradamente manifestada ao longo dos anos, de protecção do capital financeiro em detrimento dos utentes do sistema, que fez com que situações igualmente graves tivessem acontecido noutros bancos e possam inclusive estar ainda a ocorrer noutras instituições.
A incapacidade de aceitação das responsabilidades, contra toda a evidência dos factos, por parte da entidade reguladora demonstrou que ela não está em condições de se auto-regenerar e demonstrou também que a protecção que o governo dela fez e faz apenas se compreende por via de uma cumplicidade empenhada na defesa do mesmo tipo de interesses.
Por estas razões e porque a generalidade das pessoas finalmente percebeu que vão ser elas, enquanto trabalhadores e contribuintes, a pagar o gangsterismo de uns e a incúria de outros, é que a bravata trazida para a campanha eleitoral pelo cabeça de lista do PS se virou contra o próprio partido e fez com que, juntamente com outros dislates menores, tivesse havido uma reviravolta nas intenções de voto. Que pode não ser suficiente para a derrota, mas que anda lá muito perto.

1 comentário:

jvcosta disse...

E aposto, por todos os teus argumentos e apesar das bravatas e das negativas veementes, o que teremos depois das legislativas, para mim certamente sem maioria absoluta do PS, será mesmo o bloco central.

A menos que outro bloco não tenha mesmo vergonha nenhuma e esqueça António Costa no último congresso do PS.