terça-feira, 16 de junho de 2009

A DESIGNAÇÃO DE BARROSO



VALERÁ A PENA ESTAR A FORÇAR A ALEMANHA E A FRANÇA?

Os deputados socialistas ao Parlamento Europeu continuam muito preocupados com a questão da continuidade de Barroso. Depois de tudo o que disseram na campanha, é um pouco irrelevante o que possam dizer hoje. Além do mais, a designação de Barroso pouco passará por eles.
Desde há vários meses que se detecta no discurso de Sarkozy, bem como no de Merkel, alguma hesitação a propósito da escolha do português. Primeiro, falaram em diferir a designação para depois da ratificação do Tratado de Lisboa pelos 27, ou seja, para depois do resultado do novo referendo na Irlanda. Posteriormente, passaram a falar na apresentação de um programa para a Europa. Segundo eles, não se trataria de escolher um nome, mas de escolher um programa.
Mais importante do que fazer conjecturas sobre se Barroso vai ou não ser escolhido, o que verdadeiramente interessa saber é que tipo de Europa querem hoje a França e a Alemanha. No passado não havia grandes dúvidas de que a Alemanha apostava claramente num projecto transnacional europeu e também é certo que essa forte posição alemã acabou por influenciar a França, principalmente durante a época Mitterrand/Delors, a qual, apesar de herdeira da Europa das pátrias, chegou a admitir poder restaurar naquele projecto parte da grandeza perdida
Hoje, depois da reunificação alemã e do alargamento a leste e a sul, tanto a Alemanha como a França concluíram (pelo menos, é o que parece) que aquele projecto não faz mais sentido. As clivagens que entretanto se criaram, e que a guerra do Iraque apenas evidenciou, a ligação muito estreita dos recém-aderentes do Leste à NATO e aos Estados Unidos, deixavam cada vez menos espaço ao núcleo duro da União para comandar os destinos da Europa, como aconteceu com Kohl/Mitterrand, sob a presidência de Delors.
A perspectiva com que agora a Alemanha e a França encaram a Europa já não será assim tão diferente da do Reino Unido como foi no passado. A Europa é vista também por elas mais como um espaço de afirmação nacional e acima de tudo um amplo mercado livre que encerre em si todas as vantagens da livre circulação de bens e serviços mas que não tenha de suportar os custos das desigualdades entre os seus membros. Esses deverão ser, no essencial, encargos nacionais.
Esta nova perspectiva da França e da Alemanha, que ficou clara na forma como a União Europeia abordou a actual crise económico-social, aponta para um presidente da comissão originário de um país grande e rico. Um presidente vindo de um país meridional e pobre não dará àquele núcleo garantias suficientes de interpretação “correcta” do novo conceito de Europa – uma Europa cada vez mais mercado único e mais intergovernamental no plano político.
Veremos se a França e a Alemanha ainda vão a tempo de pôr em prática esta estratégia no que respeita à escolha do Presidente da Comissão Europeia.

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