AFINAL, JÁ NÃO HÁ NEGÓCIO
O Governo anunciou hoje que não autorizará a aquisição de 30% da Media Capital pela PT. Quaisquer que tivessem sido as motivações do negócio, uma coisa é certa: o governo cedeu à pressão da direita, encabeçada pelo Presidente da República, e da esquerda institucional, que também criticava aquele negócio.
Esta convergência de posições, ditada por razões muito diferentes, acaba por favorecer a direita. Enquanto a esquerda via no negócio uma tentativa encapotada de controlo de um sector da comunicação social hostil ao governo e funda o seu protesto na defesa do princípio da liberdade de informação, a direita apenas estava (e está) interessada na manutenção daquela tribuna. A questão de princípio não a preocupa, nem a motiva, como no passado já se viu.
Posta assim a questão, não faltará quem venha dizer que entre manter o princípio e favorecer a direita ou esquecê-lo para não beneficiar a direita, vale sempre mais defender o princípio.
Nada mais certo. Só que era possível fazer as duas coisas: defender o princípio e atacar o oportunismo da direita. A defesa incondicionada da liberdade de informação não impede a esquerda de denunciar o oportunismo da direita no caso TVI. O que a direita quer é manter Moniz a qualquer preço. Esse é o seu objectivo. Incompreensível é alinhar num protesto ao lado da direita, deixando intocada a ideia de que ambos os protestos têm o mesmo fundamento.
Mais cedo do que tarde, a esquerda conhecerá a dimensão do seu erro e se alguém admite a possibilidade de uma TVI ao contrário, em caso de vitória da direita, certamente estará vivendo num mundo irreal. Logo um imenso coro de protestos, amplificado pela “voz transparente” dos grandes pontífices, nos viria dizer que o programa seria anti-democrático por não respeitar o contraditório na informação, nem na opinião e por aí fora. Em conclusão: uma derrota de Sócrates a qualquer preço poderá ter um desfecho muito pouco vitorioso.
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