A PARTICIPAÇÃO PORTUGUESA NA GUERRA
Nada do que venha do Ministro da Defesa nos surpreende, principalmente se estiverem em causa interesses americanos. Severiano Teixeira ainda não compreendeu que a guerra do Afeganistão é uma guerra para perder. E não compreendeu, porque não pensa pela própria cabeça. Se pensasse, compreenderia o que os americanos com responsabilidades na Administração Obama já compreenderam sobre o Afeganistão: que aquela guerra não é para ganhar. E como não é para ganhar, o que se pretende evitar é que ela se transforme numa catastrófica derrota.
É provável que Obama tivesse começado por acreditar que a guerra do Afeganistão era para ganhar. Depois, com o andar dos tempos, principalmente a partir do princípio do ano passado, começou a ficar claro que a guerra estava a ser perdida. Obama que já se tinha manifestado contra a guerra do Iraque, num Congresso que quase por unanimidade a apoiou, que sempre se tinha igualmente mostrado muito reservado quanto ao eventual uso da força contra o Irão, fosse directamente, fosse por interposto Estado, que, enfim, de uma maneira geral se recusou sempre a admitir o uso da força como primeiro argumento para resolver os seus problemas, não podia, numa América belicista, onde o complexo militar-industrial desempenha um papel de peso, manifestar-se, de uma assentada, contra todas as guerras em que a América estava envolvida. Ficou com o do Afeganistão por lhe parecer ser aquela que mais facilmente poderia beneficiar do apoio da opinião pública americana: derrotar os talibãs e apanhar Bin Laden são actos de patriotismo que nenhum americano rejeita apoiar.
Entre nós, muito curiosamente, também já há quem tenha percebido isso. Aqui há uns meses atrás, quando Bush ainda governava, Luís Amado, Ministro dos Negócios Estrangeiros, numa entrevista concedida a Teresa de Sousa (Público) ainda se mostrava muito entusiasmado com a guerra do Afeganistão, mas mais recentemente, numa entrevista ao i, já admitiu que a participação da NATO no Afeganistão foi um erro e deu a entender que Portugal deveria reduzir o seu compromisso.
Pois Severiano Teixeira, exactamente nas vésperas de um Conselho de Estado convocado para discutir o assunto, vem dizer, à saída de uma reunião da NATO, que Portugal está a ponderar várias soluções com vista ao reforço significativo sua presença militar no Afeganistão.
Afinal, nestas questões militares que tem a ver com os Estados Unidos, quem é que manda aqui?
1 comentário:
Fiz link no A Nossa Candeia... em "Leituras Cruzadas (3)". Um abraço.
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