quarta-feira, 17 de junho de 2009

A MOÇÃO DE CENSURA

AS ESTRATÉGIAS DO CDS E DO PS

A moção de censura que o CDS resolveu apresentar nesta parte final da legislatura teve mais em vista a ocupação de espaço no futuro reposicionamento das forças de direita do que propriamente censurar o governo. A censura, que não deixou de ser feita, foi meramente instrumental.
O CDS, depois de ter ultrapassado com êxito o teste das europeias, sente-se com força suficiente para disputar uma parte do eleitorado do PSD. Beneficiando da estabilidade que o outro partido da direita não tem e de deputados mais preparados que os do PSD, o CDS julga-se com capacidade para ser muito mais que um simples apêndice numa futura maioria parlamentar.
O PSD, completamente entalado pela iniciativa política do CDS, entre dois males - abster-se ou votar a moção – optou por este último por o considerar o mal menor.
Da reunião da comissão política do PS, da passada segunda-feira, para além daquelas coisas que sempre se dizem em situações semelhantes, talvez decorra uma estratégia eleitoral, ainda não completamente assumida por todos os que nela participaram, mas que não deverá muito longe da seguinte ideia.
O PS já reconheceu que não reúne agora, nem até Outubro o conseguirá, as condições que há quatro anos lhe asseguraram uma maioria absoluta. E vai ter de optar entre garantir o maior número de votos ao centro e à direita ou tentar recuperar à esquerda o eleitorado que se absteve ou que perdeu para o Bloco e para a CDU, mais para aquele do que para esta.
Perante o acosso do CDS ao PSD, o PS acha que o PSD vai ter que se preocupar muito com o seu eleitorado mais à direita, deixando-lhe um espaço importante ao centro, onde o PS vai investir eleitoralmente. São sintomas desta estratégia a escolha de António Vitorino para a elaboração do programa eleitoral e a designação de Luís Amado para responder em nome do Governo à moção de censura do CDS. Depois tentará, através da habitual cosmética da propaganda eleitoral, captar o voto à esquerda que se absteve nas europeias, seja chamando Alegre a desempenhar um papel junto desses sectores, seja através de frases ocas de sentido, como as do actual Ministro do Trabalho – logo deste! – e futuro director da campanha das legislativas, de que é preciso “demonstrar que se governou à esquerda”, mais uma ou outra mudança relativamente emblemática, como a substituição de Vitalino Canas como porta-voz do partido.
Perante este cenário, com um PS claramente incapaz de atacar “ambos os bordos” com idêntica eficácia, a esquerda vai ter oportunidade de reforçar o seu peso eleitoral com vista ao seu grande objectivo político: quebrar ao hegemonia eleitoral do PS no “espaço da esquerda”.

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