CAVACO TOMA PARTIDO
Olhando as coisas a frio, dificilmente a intervenção de Cavaco sobre o putativo negócio entre a PT e a Media Capital, pode deixar de ser interpretada como uma tomada de partido no conflito que opõe a informação da TVI (Jornal de sexta) a Sócrates, diga-se o que se disser sobre a garantia da liberdade de imprensa. E tais palavras, ditas agora, depois da vitória eleitoral do PSD nas europeias, juntam mais umas tantas condições para o desencadeamento de uma ofensiva vitoriosa contra o governo PS. Quem está de fora, vê assim aproximar-se o cenário que, em artigo publicado durante a campanha eleitoral para a Presidência da República, considerei perigoso para a democracia portuguesa. O texto está aqui, à disposição de quem o quiser ler: nada pior, num regime como o nosso, do que ter o Presidente da República a governar por interposta pessoa.
Pode dizer-se que estamos a caminhar demasiado depressa e a antever cenários de muito difícil concretização. Oxalá assim seja, mas não deixa de ser estranho que o PR apareça a intervir exactamente para proteger o exemplo mais abjecto de liberdade de imprensa existente em Portugal. Ou seja, uma campanha ad hominem movida por um director de televisão, com a triste colaboração do seu cônjuge, contra um político, destinada a servir os seus adversários políticos.
E a propósito de adversários políticos convirá ter em conta o seguinte. Teoricamente, a campanha da TVI desfavorece o visado e favorece todos aqueles que se lhe opõem. Mas só teoricamente. Na prática, a campanha apenas favorece a força política que está em condições de o substituir. E essa força política é o PSD. O PSD de Cavaco e de Ferreira Leite. O mesmo PSD que durante os dez anos de cavaquismo foi escandalosamente favorecido por esse mesmo director de televisão, então à frente da RTP.
Por isso mesmo é que eu tenho muita dificuldade em compreender as tréguas, para não dizer o aplauso envergonhado, que as forças de esquerda institucionais concedem à TVI. Aquela gente é de direita e do mais perigoso que a direita tem. Francamente, não é necessário ter um pingo de simpatia por Sócrates e pelo governo PS – este blogue fala por si – para atacar a informação da TVI, porque na realidade, mais do que a concreta campanha contra Sócrates, aquele jornal é apenas um exemplo daquilo que o director da informação pode fazer no domínio da “política informativa”.
E não será aquela forma de fazer jornalismo o resultado de uma verdadeira usurpação de poderes que por razões muito especiais (e conjunturais) os proprietários da estação não estão em condições de impedir? Quem tem em Portugal ou no estrangeiro “aquela liberdade de imprensa”?
Insisto: gente como aquela é perigosa para a democracia. O que fariam a um governo de esquerda?
2 comentários:
Caro JM Correia Pinto,
Fiz link do teu excelente post para o Praça Stephens.
Abraço pela tua referência simpática e "open mind"...Como imaginas sigo de perto tudo o que aqui escreves...Pela qualidade do que publicas, mesmo quando discordo... e porque acho que o teu "blogroll" é o mais eficaz para ver as novidades nos diversos blogues...
Um bom assunto resultou num bom post. Boa.
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