terça-feira, 2 de junho de 2009

DUAS NOTAS SOBRE UM ARTIGO DE RUI TAVARES


OS HISTORIADORES E INDEPENDÊNCIA

No artigo de 2.ª feira, dia 1, publicado no jornal “Público”, Rui Tavares diz que a nossa época contém uma tal abundância e diversidade de fontes documentais que a tornará no futuro um verdadeiro deleite para os historiadores. E, mais à frente, a propósito das eleições europeias confessa que gostaria que Portugal fosse um país tão obcecado com a liberdade como é com a independência.
Tenho algumas dúvidas sobre a assertividade destas considerações. Ou dito de uma forma porventura mais correcta: não tenho a mesma opinião sobre os dois temas abordados.
Quanto aos historiadores, eu não irei dizer que o sonho deles é poderem actuar como um arqueólogo: descrever uma época a partir da descoberta de um utensílio doméstico, mas tanto quanto me parece das muitas leituras na área, o que verdadeiramente os deleita é a colmatagem lacunas através da formulação de hipóteses; é a formulações de "previsões" sobre o passado; o excesso de fontes enerva-os e frequentemente confunde-os.
Também não creio que os portugueses sejam obcecados pela independência. Portugal não sei se é obcecado, mas os portugueses creio que não são. O sentimento mais frequente entre os portugueses é o de protecção. A busca de protecção paternalista: de um poderoso, seja ele um sujeito em nome individual, uma empresa ou, muito mais frequentemente, o Estado. Passa-se isso nas relações sociais, onde as manifestações de independência são raríssimas e também no plano político. Se bem aprofundarmos, esta paixão pela NATO e pelos americanos que a maior parte da nossa classe política e seus acólitos tão frequentemente exibem nada tem a ver com sentimentos de independência, mas antes de protecção. De protecção paternalista.
Essa ideia de que os portugueses são obcecados pela independência resulta fundamentalmente das relações com a Espanha, embora quem generalize esse sentimento tenda a esquecer que essa independência foi conseguida ou mantida, nos momentos mais críticos, à custa de humilhações sem conta da Inglaterra. Além de que a Espanha não é verdadeiramente uma nação. O que sempre foi uma boa razão para não depender dela!



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