segunda-feira, 8 de junho de 2009

OS RESULTADOS ELEITORAIS


A DERROTA DO PARTIDO SOCIALISTA

Escrutinados quase todos os votos, ouvidos os comentários dos líderes partidários e respectivos cabeças de lista, fica a certeza que o PS registou uma das maiores derrotas eleitorais da sua história, apenas superada pelo catastrófico resultado de Almeida Santos em 1985.
Para essa derrota contribuíram as políticas anti-populares de Sócrates durante quatro anos e a desastrada prestação do cabeça de lista durante a campanha eleitoral. Se as políticas de Sócrates, sempre acompanhadas de actos de pura propaganda e, com o aproximar das eleições, de algumas medidas de raiz demagógica, ainda, a acreditar nas sondagens, se mostravam capazes de aguentar, dentro de limites politicamente aceitáveis, a onda de contestação ao Governo, já o mesmo se não passou com a prestação do cabeça de lista que, com a sua actuação, contribuiu decisivamente para que essa contestação atingisse números antes inimagináveis.
Como aqui dissemos na hora, a escolha de Vital Moreira para cabeça de lista do PS às europeias foi um acto que desafiava a mais imaginativa das compreensões. Que terá levado Sócrates a fazê-lo é ainda hoje para muita gente um mistério, já que não é de acreditar que um líder partidário seja politicamente tão ingénuo que se torne incapaz de avaliar a mais-valia eleitoral de um candidato. Já são mais fáceis de compreender as razões que levam alguém com pretensões políticas a aceitar o desempenho de um papel para o qual não está capacitado. A vaidade é grande inimiga do homem. Do homem comum e do homem inteligente. Infelizmente, atinge-os por igual, mesmo quando se metamorfoseia em falsa modéstia, o que manifestamente não é o caso.
Para o PS a derrota é muito grave tanto pelo que ela representa hoje como pelo que representará no futuro. Não parece quer o PS tenha, nestas eleições, perdido o centro-direita ou sequer a direita que costuma votar nele. O que o partido perdeu foi aquele eleitorado que, ingenuamente, ou por falta de alternativa, acreditava que o PS também era uma força de esquerda capaz de pôr em pratica uma política democrática relativamente distributiva sem concessões àquilo que interiorizou como “dogmas comunistas”. Acontece que esse eleitorado está profundamente decepcionado e descrente na real capacidade de o partido realizar tal política. Por isso, se refugiou na abstenção ou votou no Bloco, cujo crescimento tem sido fundamentalmente alcançado à custa do voto jovem urbano e do eleitorado socialista.
E há fortes motivos para preocupação futura, porque este eleitorado é de muito difícil recuperação. Causticado por decepções sucessivas, e intuindo que a chamada ala esquerda do PS não passa de uma fantasia, este eleitorado tenderá a engrossar o Bloco de Esquerda, logo que seja capaz de romper a barreira psicológica da fidelidade partidária ou de voto. O PS tenderá, por isso, a ser, cada vez mais, um partido de centro com uma forte incidência de centro-direita. O percurso político pessoal de todos – todos, sem excepção! – os seus militantes politicamente intervenientes, oriundos de forças de esquerda, que num passado já remoto ou até mais próximo, contestaram as políticas de direita do PS, tem sido no sentido da sua aproximação às teses de direita que o partido põe em prática, principalmente no campo económico, no social com repercussões económicas e no entendimento da própria democracia política. Quer isto dizer que não há dentro do partido qualquer força política organizada ou organizável capaz de inverter ou, no mínimo, equilibrar a acentuada viragem á direita da nomenclatura socialista.
Por seu turno, a vitória de Rangel está muito longe de constituir a vitória que a direcção do PSD apregoa. A vitória de Rangel acontece, apesar do PSD, por mérito próprio e demérito do seu principal opositor. Não é em termos numéricos uma grande vitória. Pelo contrário, ela confirma o PSD como partido incapaz de encontrar por si uma solução governativa. Nesta vitória pesou muito o facto de Rangel ter aparecido só. Uma campanha com Ferreira Leite será um verdadeiro desastre, por mais que daqui até às eleições os intoxicadores da opinião pública façam um grande esforço de distorção da realidade.
O Bloco tem todas as condições para continuar a subir, embora vá seguramente perdendo em radicalismo aquilo que ganhar em eleitorado.
A CDU é hoje uma força estável, com tendência para alargar a sua influência a outras áreas geográficas, além das tradicionais.
O crescimento das duas forças de esquerda vai ainda depender muito do modo como reciprocamente interpretarem os respectivos papéis. O sectarismo, o triunfalismo ou qualquer tipo de tentação hegemónica ser-lhes-ão fatais. E por isso a esquerda portuguesa, que não milita activamente, mas que inequivocamente dá o seu apoio a uma política de esquerda e espera finalmente poder colher os seus benefícios, nunca perdoaria que razões menores pudessem pôr em causa aquilo que cada vez mais se apresenta como a possibilidade de concretização de legítimas expectativas.
Finalmente, o CDS tem razão para se sentir agastado com as sondagens. Prova de que a vitória de Rangel não é a vitória que o PSD já canta, é o resultado alcançado pelo CDS em condições muito difíceis (principalmente, políticas e económicas), e que muito se deve à boa prestação de Nuno Melo, tanto no Parlamento, como na campanha.
O crescimento do BE, CDU e CDS – os verdadeiros vencedores destas eleições – fará, daqui até Outubro, aumentar o discurso da ingovernabilidade, destinado a preparar, se não houver uma oposição muito firme, susceptível de ser levada às últimas consequências, o clima político para uma reforma do sistema eleitoral patrocinada pelo Bloco Central – PS e PSD.

2 comentários:

anamar disse...

gostei muito de o ler...
até gostei dos resultados...
e... quanto ao Doutor de Coimbra, quem com ferros mata, com ferrros morre.
Abraço, Zé Manel

Dr. Mento disse...

Chamaste a atenção para um aspecto que acho extremamente curioso nestas eleições: o cantar de galo do PSD. O que é verdade é que o PS deu ao PSD todas as condições para uma boa vitória e os sociais-democratas acabaram por não conseguir mais do que um 1-0, que, apesar de dar três pontos, é um resultado magro face aos erros dos adversários.

Neste aspecto, concordo que os três outros partidos é que foram os grandes vencedores da noite, especialmente o BE, que, efectivamente, teve mais do dobro dos votos conquistados em 2004 e triplicou a sua representação parlamentar, para além de conquistar percentagens de dois dígitos e de passar a terceira força política.

Mas há muito quem exalte em demasia a vitória de Paulo Rangel, como se o pequenino fosse o novo salvador da pátria. Este bem, é certo, e não fez uma má campanha, mas... ainda poderia ter ido mais longe. Contudo, fez os três pontos e esse mérito ninguém lhe pode tirar.