quarta-feira, 10 de junho de 2009

AS PERSPECTIVAS DA ESQUERDA

O ARTIGO DE RUI TAVARES SOBRE O COLAPSO DO CENTRO-ESQUERDA

Sem qualquer pretensão de fazer uma análise aprofundado dos resultados eleitorais e das perspectivas que se abrem à esquerda para além do que aqui já foi dito, acho que se justifica uma palavra sobre o artigo de Rui Tavares, no Público de hoje: “Por que colapsou o centro-esquerda”.
A minha convicção, que somente um estudo aprofundado dos resultados eleitorais poderia confirmar, é que o PS não perdeu votos ao centro, nem à direita que o costuma apoiar eleitoralmente com o sentido estratégico de quem não se engana. Pode, por razões que se prendem com a natureza destas eleições, alguma daquela gente não ter votado. Ter-se abstido por entender que o que estava em causa não justificava o “sacrifício” de votar. Onde o PS teve transferência de voto e abstenção marcadamente penalizadora foi naquele sector de esquerda que vota PS quer para barrar o caminho à direita, quer por não ter sido ainda capaz de se reconhecer em nenhuma outra força de esquerda. Este voto, que é um voto mais definido pela negativa do que pela positiva, está à mercê de quem o saiba cativar e convencer de que há outras alternativas credíveis e viáveis.
Mas há ainda um outro voto numericamente muito importante no PS. Há aquele voto dos que ingenuamente acreditam que o PS é o único partido com capacidade para dar satisfação às aspirações do “povo de esquerda” não comunista. Este voto, ao fim de quase 14 anos de governo PS, seja com amplas maiorias relativas, ou mesmo com maioria absoluta, sente-se hoje decepcionado e até defraudado com os resultados da governação socialista, que, agora por uma razão, ontem por outras, encontra sempre motivos para governar à direita quanto mais não seja com a desculpa de que tudo isso é feito no presente com vista a um próximo futuro redentor…que nunca chega.
Este voto está cansado da sua fidelidade eleitoral, mas ainda não conseguiu romper a barreira psicológica que lhe permita mudar.
É para estes eleitores que a esquerda tem de se voltar. São estes eleitores que a esquerda tem de conquistar se quiser constituir-se numa alternativa credível de governação.
Quem continuar a acreditar que encontra dentro do Partido Socialista os nomes ou as forças capazes de promover a mudança, associando-se a outras forças de esquerda, engana-se redondamente. Mais do que as palavras, por vezes “cirurgicamente” altissonantes, contam os factos. E os factos no PS, como de resto em todos os demais partidos social-democratas europeus, apontam sempre no mesmo sentido. No sentido da aproximação cada vez mais consistente às políticas de direita.
Se a gente de esquerda se continuar a deixar enganar pelas palavras, inclusive daqueles que já tiveram responsabilidades de governação, jamais as propostas que defendem serão concretizadas.
Não faltará quem leia neste texto a marca de algum sectarismo. Só que não adianta ir por aí. O que importa – e isso acontece pela primeira vez em Portugal desde o 25 de Abril – é empreender uma luta que acabe com a hegemonia eleitoral do PS no “espaço da esquerda”. Enquanto essa hegemonia se mantiver, as propostas, realistas e viáveis, de esquerda continuarão a ser uma miragem!

1 comentário:

jvcosta disse...

Concordo inteiramente contigo em tudo o que escreves sobre o PS. Mas já não concordo com a alternativa que apresentas como imediata, a da "esquerda" à esquerda do PS.

"Este voto, que é um voto mais definido pela negativa do que pela positiva, está à mercê de quem o saiba cativar e convencer de que há outras alternativas credíveis e viáveis."

É aqui que reside o problema. BE+PCP são só 20%, portanto alternativa não viável. Acho que em Setembro há dois cenários muito prováveis. Se o mais votado for o PSD, uma coligação minoritária de PSD-CDS, que provavelmente se aguenta porque o PS não lhe vai dar grande luta. Se o PS for o mais votado, impossível uma coligação à sua esquerda, logo o bloco central.

Deixando agora a viabilidade, há a questão da credibilidade. Só vou falar no BE. Qual é a sua credibilidade como partido de governo? As suas propostas são bandeiras eficazes de agitprop mas mal estaria este país entregue à sua governação. Só como exemplo: nacionalizar a energia? É de loucos. Reforma aos 40 anos de trabalho? É condenar os meus filhos a não terem segurança social, rebentada com tais ideias.

Claro que se pode pôr outra hipótese, no caso muito improvável de o BE engolir as ofensas de António Costa no último congresso do PS e se coligar com o PS: portar-se bem e virar gente com juízo, como os verdes alemães quando entraram no governo com o SPD.