segunda-feira, 31 de março de 2008

GOSTAVA DE SABER COMENTAR ASSIM


O COMENTÁRIO DE SARSFIELD CABRAL SOBRE A CRISE ECONÓMICA AMERICANA

O comentário de Sarsfield Cabral, na edição impressa do Público de hoje, pág. 43, espelha muito bem o ponto de vista daqueles que durante anos nos andaram a dizer que a desregulamentação dos mercados, nomeadamente dos financeiros, muito contribuiria para a nossa felicidade enquanto homo economicus. Hoje, esses mesmos arautos da desregulamentação, confrontados com uma crise de dimensão mundial, limitam-se a descrevê-la, aliás muito sumariamente, sem minimamente se preocuparem com as verdadeiras causas que a originaram. Ou seja, relatam-na o mais assepticamente possível, como se de uma fatalidade se tratasse.
Gostava de os ver a comentar a crise de um regime apostado em esbater as desigualdades sociais ou realmente preocupado em assegurar educação, saúde e segurança social para todos os seus cidadãos, independentemente dos seus rendimentos. Aí não faltariam receitas, críticas e longas dissertações sobre as causas que a ditaram.
Vejamos alguns exemplos de como a situação é descrita: a) o défice das contas externas (é uma das causas da crise; mas não há uma razão para o défice das contas externas? Se não se quiser perguntar a Bush, pergunte-se a Vasco Pulido Valente, que ainda no último sábado, a propósito da guerra do Iraque, dizia que, para a continuar, “dinheiro é coisa que não há-de faltar”, ver post infra); b) falência do crédito hipotecário facilitado pelas baixas taxas de juro (outra causa; mas há alguém de bom senso que acredite que o incumprimento do crédito hipotecário para a compra de casas, por mais americanos que atinja – e deverá atingir aí uns quatro a cinco milhões –, poderia ter, só por si, estas consequências? É óbvio que, embora aquela seja a causa remota da crise, as verdadeiras e devastadoras causas são as que tendo aquela situação por base permitiram que a partir dela se montasse uma gigantesca “operação D. Branca”, à escala mundial).
Concretizando e explicando, dentro dos limites do possível, por um leigo em questões de economia, nomeadamente de casino. Dentro dos limites do possível, porque a crise do sistema financeiro americano é de difícil explicação. A parte relativa ao imobiliário parece fácil: em consequência do juro baixo (em grande medida, resultante da crise das ponto.com, que fez com que o Presidente da Reserva Federal, Allan Greenspan, como ele próprio explica, tivesse baixado e mantido baixos, por vários anos, os juros), as pessoas, persuadidas pelos bancos, iam comprando casas que não poderiam depois pagar. E como o mercado das casas na América parecia um mercado consistente, uma parte significativa do sistema financeiro global, apostou nele. Então, como se explica que a ruína de uma parte – sim, porque é apenas uma parte – do mercado imobiliário tenha provocado tais efeitos?
Porque o dinheiro dos empréstimos com que as casas eram adquiridas deixou de ser dinheiro local e passou a ser dos investidores de todo o mundo. Na verdade, capitais de todo o mundo afluíram ao mercado imobiliário norte-americano, nomeadamente os capitais que exigem uma boa rentabilidade, como são os provenientes da subida do preço do petróleo e do boom asiático. Ora, como os empréstimos para a compra de casas eram concedidos a pessoas que teriam dificuldade em os pagar (os bancos sabiam disso), eles tinham juros mais altos, embora estes juros estivessem disfarçados e aparentemente atenuados por taxas de juro mais baixas no início. É claro, que os compradores conheciam as condições em que compravam. Eles não foram enganados. E muitos deles até sabiam que nem sequer iam permanecer na localidade onde compraram a casa pelo tempo de pagamento do empréstimo hipotecário (cerca de 30 anos). Só que eles, tal como os investidores, contavam com a constante subida do preço das casas.
Os bancos, titulares das hipotecas, para as tornar as atractivas para os investidores começaram a seccioná-las em várias tranches (sénior de tipo AAA, mezzanine de risco AA a BB e equity sem rating) de risco diverso, que depois vendiam aos investidores interessados no mercado imobiliário (as famosas CDO, collateralized debt obligation). Para que se compreenda: os investidores não tomam directamente posição nos empréstimos do mercado imobiliário, mas numa entidade que redefiniu o risco e a recompensa (daí que o Sr. Greenspan continue a afirmar que a crise tem a sua causa no modelo de previsão de riscos, que não tomou em consideração todas as variáveis!).
Por outro lado, os investidores incrementaram ainda mais os seus lucros recorrendo à “alavancagem”, ou seja, investiam 100 milhões com 1 milhão de capital próprio e 99 milhões emprestados (como se sabe, a “alavancagem” compensa sempre que o preço a pagar pelo capital mutuado seja francamente compensado pelo rendimento esperado). E era, em virtude dos baixos juros praticados e do alto rendimento das CDO.
É claro que este tipo de investimento envolve um grande risco. Risco que os especuladores não calcularam devidamente, porque os grandes “sábios” dos mercados financeiros, Greenspan, Bernanka, e toda a série de consultores especializados, lhes fizeram crer que o mercado imobiliário americano era muito seguro, porque o preço das casas nunca baixaria! E de facto, os preços não cessavam de subir…Só que espiral não pára aqui: os bancos não directamente envolvidos no negócio imobiliário ficaram igualmente enredados nesta gigantesca teia quando começaram a vender complexas apólices de seguro para as dívidas hipotecárias, que obviamente os tornava responsáveis face ao incumprimento dos devedores. E depois foi o efeito dominó…caiu uma peça, caíram em cascata todas as subsequentes.
Como a crise vai ser resolvida já não é da nossa conta, embora o mais provável aponte no sentido de mais uma vez os especuladores de Wall Street se “safarem”, ao menos parcialmente, para que a crise não derrube a economia real!
O que já é da nossa conta é questionar como a partir da construção de uma casa – um acto de economia real – se pode permitir esta espiral de negócios que nada tem a ver com a realidade! É o mercado livre em todo o seu esplendor, como diria o Sr. Greenspan, muito admirado pelos Clinton!

O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA NA VENEZUELA


AS DIFICULDADES DE EXPANSÃO DO PORTUGUÊS DE PORTUGAL

A Venezuela anunciou recentemente a criação, no próximo ano lectivo, de um programa piloto, que integra a língua portuguesa como língua opcional, em 14 escolas do estado de Carabobo.
Mais uma vez, Portugal terá dificuldade em responder a este desafio, por falta de recursos financeiros para assegurar a contratação de professores. É claro, que há sempre o recurso ao Brasil. Só que o envolvimento das autoridades brasileiras no financiamento do projecto implica a aceitação de duas lógicas diferentes no ensino da língua, facto este que nenhum acordo ortográfico poderá atenuar.

BLOCO CENTRAL ALARGADO


NOVO BLOG

O Público de hoje dá notícia de que um novo blog criado por personalidades do CDS, PSD e PS vai começar a funcionar a partir de amanhã.
Não há dúvida, vamos ter o bloco central alargado, talvez por a diferença entre os primitivos componentes daquele bloco ser cada vez menor!

PRESIDIR AO BENFICA NÃO É O MESMO QUE RECAUCHUTAR PNEUS

AS CONCEPÇÕES DE LFV SOBRE O BENFICA

O Benfica nos últimos 15 anos ganhou um campeonato. Mesmo assim, no ranking dos clubes portugueses é o que tem o melhor palmarés nas provas, nacionais e internacionais, em que participou e participa, com excepção da Supertaça Cândido de Oliveira.
Pois, o Presidente do Benfica no passado sábado teve a desfaçatez de afirmar que o último campeonato ganho foi uma vitória fora de tempo!
Continuando a iludir os incautos adeptos do Benfica com miríficas vitórias futuras e virtuais conquistas de títulos que nunca ocorrem, este homem, que confunde o Benfica com o Alverca, deve rapidamente ser devolvido à procedência, nem que seja para lá continuar a conluiar-se com o Porto contra o Benfica, como já fez no passado.

GAMA ELOGIA A OBRA DE JARDIM


A HOMENAGEM MERECIDA

Jaime Gama, Presidente da Assembleia da República, elogiou a obra ímpar de Alberto João Jardim na Madeira, “expressão de um vasto e notável progresso no país”. “Esta obra”, disse Gama, “historicamente tem um rosto e um nome, e esse nome é o do Presidente do Governo Regional da Madeira”.
A homenagem de Gama a Jardim é a todos os títulos justificada.
De facto, o progresso alcançado na Madeira desde o 25 de Abril não tem paralelo em nenhuma outra região do país. Não apenas pelo nível que se atingiu, mas principalmente pelo baixíssimo nível de que se partiu. Esse progresso tem sido deturpado, desvalorizado e imputado a transferências massivas de verbas do continente, mas a verdade é que as verbas de que Jardim dispõe não têm fonte diferente das que têm sido utilizadas pelos governos do continente. Os resultados de um e de outro lado é que são diferentes. Os de Jardim são melhores!

sábado, 29 de março de 2008

AINDA A DIREITA BEM PENSANTE, AGORA NUMA VERSÃO SEMI-ERUDITA


A CRÓNICA DE JPP NO PÚBLICO SOBRE A GUERRA DO IRAQUE

Numa outra manifestação da direita bem pensante, agora em versão semi-erudita, Pacheco Pereira, depois de todas as barbaridades que já disse e escreveu sobre a guerra do Iraque, nomeadamente as últimas, que fizeram as delícias da blogosfera, vem agora defender a teoria de que há, na política de quem governa, dois tipos de mentiras. A mentira má e a mentira boa. A má é condenável; a boa é indispensável. (Para filósofo, como ele gosta de ser tratado, esta questão de o critério de distinção ser no primeiro caso moral e no segundo utilitário, deixa-nos logo um pouco desorientados. Mas prossigamos…). Não se pense que o Iraque é uma mentira boa. Não, nada disso. No Iraque não houve mentira, já que o “bando dos três” (lamento, mas não há quarto…os “anfitriões”, podem ficar na fotografia, mas não contam para a decisão) estava convencido de que havia armas de destruição massiva no Iraque! Mais: até os RESPONSÁVEIS (tão grandes responsáveis, só mesmo com maiúsculas!) militares do Iraque estavam convencidos da existência daquelas armas! Mais ainda: que estavam guardadas sob o controlo dos filhos de Saddam! Logo, Bush actuou como deve actuar um governo responsável! O erro dele foi ter-se deixado levar pelo “pide bom” (esta é minha, claro) que, com aquela anacrónica ideia de obter uma resolução do Conselho de Segurança, o obrigou a fabricar provas para apresentar aos membros do Conselho!
Pacheco Pereira depois de ter escrito tudo isto, mas a sério, tem ainda o descaramento de se perder em múltiplas considerações para demonstrar que aquela convicção era legítima.
Se não fossem as conotações que sinceramente quero evitar, eu diria que Pacheco Pereira está a precisar de tratamento psiquiátrico. E com a mudança que vai haver na América, a necessidade de tratamento vai acentuar-se!
Para evitar as conotações, posso antes dizer que ele está cada vez mais parecido com o Luís Delgado, que, comentando em directo as eleições presidenciais americanas de 1992, se recusou a admitir que Bush (pai) as tivesse perdido para Clinton! E este nunca mais se curou…

A DIREITA PORTUGUESA BEM PENSANTE NÃO TEM VERGONHA


A CRÓNICA DE VPV NO PÚBLICO
Toda a gente sabe o que foi a guerra no Iraque:
Primeiro – Uma monstruosa violação do direito internacional, baseada em mentiras destinadas a justificar o crime a cometer – guerra de agressão;
Segundo – Uma guerra responsável pela morte de dezenas ou centenas de milhares de iraquianos e de milhares de soldados invasores;
Terceiro – Uma guerra que fez alastrar para zonas até então seguras o fundamentalismo islâmico, bem como o terrorismo que normalmente o acompanha;
Quarto – Uma guerra que liquidou o Iraque como potência regional, fortaleceu a República Islâmica do Irão e destabilizou por muitos anos os anteriores equilíbrios regionais;
Quinto – Uma guerra de espoliação, como o insuspeitíssimo Alan Greenspan recentemente confirmou ao confessar que a causa da guerra foi o petróleo.
Perante estes factos, que quase ninguém de bom senso hoje contesta (até Durão Barroso, que tanto beneficiou com o apoio que deu à guerra, se recusa hoje a defendê-la ou a justificá-la), o que nos diz a direita portuguesa bem pensante?

Vasco Pulido Valente, com a leviandade e a leveza de que faz gala em todos os seus escritos jornalísticos, afirma que, sem a América, o Médio Oriente pode com facilidade deslizar para uma guerra generalizada, por isso se justifica a sábia proposta de J. McCain de ficar no Iraque por mais cem anos, se for necessário! E depois, para “justificar” esta avisadíssima proposta mete-se, como é seu hábito, numas despropositadas comparações (que só ele faz) da situação actual com descolonização ou com a guerra do Vietname para subsequentemente concluir que, se semelhanças existem, elas sê-lo-ão, imagine-se!, com o I século do Império Romano ou o Império Britânico do século XIX. Tudo isto para legitimar (palavra porventura forte para um niilista, como VPV) a continuação da guerra por mais cem anos, já que dinheiro é coisa que não deve faltar!
Francamente, para um cronista que simultaneamente ostenta o título de historiador formado na sábia e vetusta escola de Oxford, esta dissertação sobre a guerra do Iraque e a sua continuação parece-me paupérrima! De facto, por muito vivificante que tenha sido historicamente a experiência republicana e imperial de Roma, não há comparação possível entre a segurança do “limes”romano e a situação no Iraque. Não será com legiões de mercenários, como VPV propõe, nem com acordos com os “bárbaros” da periferia que o império americano evita a desordem e assegura a “pax”, como se está a ver, nem, depois, a derrota! De resto, o Império Romano também não a evitou…Da comparação com o Império Britânico do século XIX, menos ainda adianta falar, já que ela é ainda mais despropositada.
A situação do Iraque não carece de comparações para ser compreendida. Ela é o que toda a gente vê que é, como já foi compreendido pelos polacos, pelos ucranianos, pelos ingleses e obviamente pelos americanos. Por isso, dizer que dinheiro é coisa que não deve faltar para continuar a guerra ou que a guerra é, na América, um assunto de somenos, só se justifica em alguém que, habitando o Gambrinus, desconhece por completo o que se passa à sua volta!

sexta-feira, 28 de março de 2008

AS PRIMÁRIAS DO PARTIDO DEMOCRÁTICO - NOVOS DESENVOLVIMENTOS


AS DESVENTURAS DE H. CLINTON

Nancy Pelosi, Presidente da Câmara dos Representantes, não se deixou intimidar com a reprimenda que levou dos apoiantes de H. Clinton, e reiterou, por intermédio do seu porta-voz, o que antes havia afirmado: os superdelegados não devem contrariar o sentido do voto dos delegados eleitos (“pledged”), ou seja, voltou a manifestar-se contrária a qualquer tentativa de “vitória na secretaria”.
Por seu lado, Howard Dean, Presidente do Partido Democrático, em entrevista dada ontem, manifestou as sua preocupação pela forma como a campanha estava a decorrer entre os candidatos democráticos e apelou aos superdelegados para que dêem a conhecer o sentido do seu voto logo a seguir à última primária (Porto Rico, a 7 de Junho). Dean quer evitar uma batalha na Convenção e transformá-la antes numa apoteótica manifestação de apoio ao candidato nomeado para evitar causar mais danos nas fileiras democráticas. É, porém, evidente que esta inocente declaração vai favorecer o candidato que em 7 de Junho tiver mais mandatos.
Segundo se diz nos bastidores da campanha, as chances de H. Clinton obter a nomeação andam entre os 5 e os 10%. Ninguém acredita, no entanto, que ela desista de reverter a situação a seu favor, mesmo que nessa desesperada tentativa arraste o Partido Democrático para a derrota.
A sua derrota pessoal deverá ser, certamente, uma grande frustração. Antes de se suspeitar que este “rapaz afro-americano dos arredores de Chicago” tinha algumas hipóteses de se transformar na grande esperança da América progressista, ela tinha por seguro que as primárias seriam para ela a apoteose de uma carreira longa e friamente preparada que culminaria na Casa Branca. Tudo indica que assim não será. E, nesse caso, vai ter de pôr ao serviço do Senado, na proporção de uma entre cem, a sua grande experiência política adquirida ao longo de quatro décadas, com especial relevo para adquirida nos oito anos em que foi primeira-dama…

O DEBATE QUINZENAL NA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA


AS FRAGILIDADES DA OPOSIÇÃO

O debate de hoje não foi favorável à oposição, que não esteve bem. E Sócrates, sem precisar de ser brilhante, ganhou o debate.
Antes de prosseguir, devo confessar que ainda não percebi bem para que servem estas derrotas ou vitórias, já que elas, por mais expressivas que possam ser, não alteram a realidade. Com esta afirmação de modo algum pretendo questionar a importância dos debates parlamentares, já que, apesar da existência de outros mecanismos de controlo da actividade governamental, é indispensável que o Governo, regularmente, preste contas no Parlamento e ao Parlamento.
Sócrates apresentou-se na AR com os trunfos ontem exibidos na conferência de imprensa: redução do défice para 2,6%, logo abaixo do montante inicialmente estimado, e redução em 1% do IVA, aumentado de 2% durante o seu Governo, depois de já ter sido aumentado em igual medida pelo Governo anterior, alegadamente pelas mesmas razões (aumento da receita para redução do défice orçamental).
O PSD, em matéria de défice orçamental, tinha necessariamente de, no debate, experimentar as dificuldades de quem no passado recente havia contribuído para agravar a situação herdada e de, para a combater, ter tomado uma série de medidas que se revelaram inapropriadas e inconsistentes. Em matéria de impostos, não somente os subiu quando foi Governo, como, depois de deixar de o ser, já perfilhou posições contraditórias sobre o assunto, não apenas sucessivamente, mas às vezes até concomitantemente, como acontece agora.
O CDS, também responsável pela situação herdada, pouco poderia dizer, para além da afirmação vaga de que foram os contribuintes portugueses que reduziram o défice e não o Governo que, com a sua poltica, continua a ser responsável pela não redução da despesa.
Penso que do lado da esquerda, a discussão não foi bem conduzida. Em primeiro lugar, não há que negar, nem desvalorizar a redução do défice orçamental, mas, pelo contrário, enfatizar que essa redução foi fundamentalmente conseguida à custa dos trabalhadores e dos reformados portugueses e, dentre estes, dos mais pobres, que são o alvo privilegiado do Governo. Assim sendo, não há qualquer razão para que a primeira medida de alívio com que o Governo pretende sinalizar a nova etapa económica tenda a favorecer quase exclusivamente aqueles que menos contribuíram (ou que só indirectamente contribuíram) para que aquela redução se conseguisse. De facto, como já está evidente, inclusive pelas declarações dos interessados, os comerciantes não estão disponíveis para baixar os preços, nem sequer para admitir que o Governo os controle. Como, de resto, já fizeram recentemente a propósito de uma redução mais muito acentuada do IVA num sector específico.
A esquerda, não podendo desde já advogar uma redução do IRS, independentemente das dificuldades jurídicas, porque ela não iria beneficiar os mais necessitados, deveria ter propugnado uma devolução em espécie do montante correspondente à redução do IVA a favor das camadas mais desfavorecidas e mais penalizadas com as políticas restritivas do Governo. Depois, deveria atacar os off shores, a fuga ao fisco por essa via (como se está a ver no caso do DVD alemão), susceptível ela própria de reduzir substancialmente o défice ou até de o eliminar. E, insistir, insistir sempre, nesse escândalo que é o IRC pago pelos Bancos. A descida mais substancial do IVA deveria ficar como última reivindicação.
Desvalorizando a importância da redução do défice e responsabilizando o Governo por não ter mais cedo cortado no IVA, a oposição de esquerda, sem querer, fez o jogo do Governo

MOURINHO A CAMINHO DO INTER DE MILÃO


MOURINHO EM ITÁLIA PARA NEGOCIAR

Reina grande excitação nos media portugueses: Mourinho está em Itália para negociar a sua contratação como treinador do Inter, actual comandante da série A italiana.
Depois da sua passagem pelo Sporting, Porto e Barcelona como terceiro treinador ou, no dizer de outros, como intérprete de Bobby Robson, foi contratado, como treinador principal, pelo Benfica, de Vale e Azevedo, do qual saiu por culpa própria e de Vilarinho, em idênticas proporções. Tendo-se gorado seguidamente a hipótese de ser contratado pelo Sporting, rumou a Leiria, onde, enquanto esteve, fez um campeonato acima do nível médio da equipa. Depois foi contratado pelo Porto, no qual perdeu o campeonato então em curso e ganhou nos dois anos subsequentes a Taça UEFA, a Liga dos Campeões, duas Ligas portugueses e uma Taça de Portugal, além de uma Supertaça.
No Porto teve mérito e teve sorte. Teve mérito, apesar de muitos outros antes dele já lá terem ganho, porque soube construir uma equipa que custou muito menos do que o preço por que acabou por ser vendida. E teve sorte, porque a Liga dos Campeões, por factores a que ele é alheio, lhe foi particularmente favorável, não apenas pela categoria dos adversários que lhe calharam em sorte, mas também porque no jogo com o Manchester o árbitro, por erro, anulou um golo legal, cuja validação teria alterado o sentido da eliminatória. O mérito, todavia, indiscutivelmente existiu, pese embora o facto de Carolina Salgado ter dito que o presidente do Porto várias vezes havia sublinhado a circunstância de Mourinho não ter ganho só. Sendo talvez essa a razão por que continuam pendentes de averiguação, no Apito Dourado, alguns jogos do FCP, na era Mourinho.
A seguir, Mourinho foi contratado pelo oligarca russo, Roman Abramovich, Presidente do Chelsea. Com carta branca para contratar quem quisesse e com dinheiro a rodos, Mourinho, em três épocas, ganhou dois campeonatos na Inglaterra, feito que o Chelsea já não conseguia há 50 anos, ganhou uma Taça da Liga e uma Taça de Inglaterra. Não foi, porém, feliz na Liga dos Campeões, onde sempre foi eliminado, uma das vezes logo nos oitavos de final. Insatisfeito com o futebol praticado e com o rumo da equipa, apesar das multimilionárias contratações, Abramovich despediu Mourinho no logo início da quarta época, na sequência de alguns pequenos, porém ainda remediáveis, desaires.
E eis que Mourinho se apresta agora para treinar onde sempre desejou: num grande clube italiano. E nesse campeonato, se vier a ser contratado, Mourinho vai poder dissipar a dúvida que já paira no mundo do futebol (excepto nos seus indefectíveis apoiantes, como é óbvio): é ele um treinador especial, capaz de vencer em qualquer lado, nas excelentes condições que costuma ter, ou é ele apenas um bom treinador que perde e ganha como a maioria dos seus colegas? O campeonato italiano é o campeonato ideal para dar resposta a este desafio: se, por um lado, é indiscutivelmente um campeonato muito competitivo, apesar de algumas batotas que de tempos a tempos são descobertas, por outro lado é também o campeonato que melhor se adapta ao tipo de futebol praticado pelas equipas de Mourinho. A ver vamos.

A VISITA DE SARKOZY A LONDRES

CHARME, ELEGÂNCIA E BAJULAÇÃO AJUDAM A TRANSFORMAR A VISITA UM SUCESSO

Sobre a visita de Sarkozy a Londres, ver o interessante artigo hoje publicado pelo Estado de S. Paulo.

REJEIÇÃO A HILLARY BATE NOVO RECORD


A SENADORA DE NY PERDE APOIANTES

Numa sondagem ontem publicada por Wall Street Journal e pela NBC, a candidata democrata às eleições presidenciais acusa entre os eleitores um nível de rejeição consideravelmente superior ao registado há duas semanas atrás. Agora, só 37% dos eleitores têm uma imagem positiva de H. Clinton contra os 45% de há quinze dias.
Esta descida é, pelos analistas, imputada à forma como a Senadora de NY tem conduzido a sua campanha contra Barack Obama, nomeadamente os ataques ad hominem, directos e por interpostas pessoas.
Por outro lado, a sondagem demonstra também que a divulgação das pregações do Reverendo Jeremiah Wright não afectou a imagem que os americanos têm de Obama, que se manteve inalterada nos 49%.
H. Clinton está ainda a perder alguma influência no eleitorado branco, nomeadamente nas mulheres, que, pela primeira vez, têm dela uma impressão mais negativa (44%) do que positiva (42%).

HOMENAGEM A CORONA, ANTIGO JOGADOR DO BENFICA


O PRIMEIRO CONTACTO COM O BENFICA

O meu primeiro contacto com o BENFICA aconteceu por via do ciclismo, na volta a Portugal ganha por José Martins. O futebol veio depois, por via de uma separata colorida, creio que da Stadium ou do Mundo Desportivo, da equipa do Benfica, com a seguinte composição:
Bastos; Jacinto, Félix e Fernandes; Moreira e Francisco Ferreira; Corona, Arsénio, Águas, Rogério e Rosário.
Vi numa publicação deste fim-de-semana que Corona tinha falecido. A minha homenagem.

quinta-feira, 27 de março de 2008

VOGUE ACUSADA DE RACISMO



CAPA DA VOGUE CAUSA POLÉMICA NA AMÉRICA


A capa da Vogue do próximo mês de Abril, ver foto ao lado, com a conhecida modelo brasileira, Gisele Bundchen e a super estrela do basquetebol, LeBron James, está a suscitar uma viva polémica nos Estados Unidos, por facilitar, segundo os críticos, a perpetuação de preconceitos raciais.

A pose de James, rodeando a cintura de Gisele e abrindo desmusuradamente a boca no que parece ser um grito selvagem sugere imediatamente a imagem de King kong, o gorila que se apaixona pela miúda loira.

É a primeira vez que a Vogue põe na capa um negro.

CRISTINA FERNÁNDEZ EM DIFICULDADES


ESCASSSEZ DE ALIMENTOS NAS CIDADES ARGENTINAS

Os supermercados em Buenos Aires e noutras cidades da Argentina estão-se debatendo com a escassez de alimentos, em consequência da greve, que já dura há 14 dias, do sector agro-pecuário. Há, por todo o lado, bloqueios nas estradas que impedem a chegada dos abastecimentos aos mercados.
Na passada terça-feira, a manifestação convocada em todo o país contra a política da recém-eleita presidente foi um êxito surpreendente, mesmo para os sectores que lideram a luta.
Esta luta é acima de tudo uma luta dos grandes produtores agro-pecuários contra as retenções à exportação impostas pelo governo, na sequência, aliás, da política que já vinha sendo seguida por Néstor kirchner, marido da actual presidente. Esta, ao aumentar a taxa de retenção para 45%, acabou por unir dois sectores historicamente inimigos – os grandes agro-pecuários e os mais de 75 mil pequenos produtores, aos quais é aplicável a mesma taxa.
Independentemente da justeza da luta ou da política que lhe deu azo, este exemplo serve para demonstrar que de nada adianta esgrimir com o estafado argumento da “legitimidade governamental”, como fazem os nossos conhecidos “defensores do governo na hora”, para resolver estes assuntos.

NOTAS SOLTAS SOBRE AS PRIMÁRIAS DOS DEMOCRATAS


OS DESENVOLVIMENTOS MAIS RECENTES

Não haverá repetição das eleições na Florida e em Michigan. Em princípio, estes dois estados não terão representantes na Convenção.
A visita de H. Clinton à Bósnia, enquanto primeira-dama, decorreu com inteira normalidade. O relato romanceado que a candidata fez desta visita (debaixo de fogo, com atiradores furtivos por todo o lado, etc.) foi completamente desmentido pelas imagens televisivas da época, agora retomadas por várias cadeias de televisão. Hillary já pediu desculpa por se ter equivocado, mas ficou claro que estava a mentir.
Obama já tornou pública a sua declaração de rendimentos, na qual avulta uma cifra de cerca de um milhão e meio de dólares referente a dois livros autobiográficos. Hillary, que afirmou já ter financiado a sua campanha com cinco milhões de dólares, continua a recusar-se a apresentar a sua.
A propósito da crise do imobiliário, Obama atacou McCain por este ter dito que a melhor forma de reagir, ao facto de milhões de americanos estarem em risco de perder a sua casa, é esperar para ver o que se vai passar. Obama criticou o governo por não ajudar os trabalhadores e as suas famílias a fazer face às dificuldades resultantes da crise do alojamento, do encerramento de fábricas, do crescente aumento das despesas com saúde e com a escolaridade, da degradação das escolas, e de apenas se preocupar com a redução dos impostos a um punhado de ricos. Hillary Clinton tem estado em dificuldades sobre esta matéria, porque um dos pais da crise, o ex-presidente da reserva federal, Allan Greenspan, não só foi mantido no cargo pelo marido, como foi sempre muito acarinhado por ele, que nutria por Greenspan uma grande admiração.
Hillary dirigiu ontem uma forte reprimenda a Nancy Pelosi, prestigiada Speaker da Câmara dos Representantes, por esta ter sugerido que os superdelegados devem seguir o voto dos delegados eleitos (“pledged”, i.e., comprometidos com o voto popular).
Hillary Clinton está nervosa. Faltam dez eleições. Ela vai à frente nas sondagens na Pensilvânia, no Kentucky, na Virgínia Ocidental e em Porto Rico. Em Indiana não se sabe quem ganhará, enquanto nos restantes cinco a vitória de Obama é dada como certa. Só uma catástrofe eleitoral deste lhe permitiria superar os 150 delegados que ela tem a menos. Matematicamente é quase impossível que este panorama se altere. Mas como ela não é mulher para desistir, tudo pode ainda acontecer a Obama daqui até 4 de Junho…

quarta-feira, 26 de março de 2008

A SELECÇÃO VOLTOU A PERDER


CARLOS QUEIRÓS DISSE O ÓBVIO

Carlos Queirós disse esta semana que a selecção portuguesa não é favorita à vitória no Euro 2008. A gente do futebol, mais próxima da selecção, não gostou. Não se percebe por que não gostou. Ele apenas disse o óbvio, embora não tenha dito tudo o que é óbvio.
É óbvio que Portugal tem uma selecção mediana, servida por jogadores de nível médio, com excepção de um ou dois que talvez atinjam a qualificação de bons, mas que integrados numa equipa média tendem a render menos do que renderiam se jogassem numa boa equipa.
Basta atentar nos resultados obtidos desde o mundial. A selecção não ganhou em jogos oficiais a nenhuma equipa de nível médio. E nos particulares perdeu todos os jogos com equipas boas.
Os jogadores também estão muito aquém do que seria necessário para se fazer uma boa equipa.
Ricardo joga bem com os pés e defende bem penalties nos jogos a eliminar que terminam empatados, mas defende defeituosamente na maior parte dos casos, coloca-se mal na baliza e não sabe interceptar os cruzamentos.
Nuno Gomes joga bem para trás e sabe marcar quando os golos já não interessam para o resultado, mas tem imensa dificuldade em marcar tentos decisivos.
Miguel também está a jogar muito melhor para trás do que para a frente. Desde que foi para Valência engordou, perdeu força e tem muita dificuldade em subir.
Os centrais, com excepção do R. Carvalho, fazem muitas faltas à entrada da área. Tanto o Pepe, que em Madrid já foi expulso mais de uma vez, como o Bruno Alves, que às vezes até ensaia jogadas de kareté.
O lateral esquerdo não existe, aliás raramente existiu, mesmo no passado.
Os médios, apesar de serem rapazes esforçados, são um deserto de ideias. Falham muitos passes e têm muita dificuldade em gizar jogadas criativas. Tudo consequência de manifesta falta de técnica.
Sobram o Simão, que está uma sombra do que era no Benfica, o Nani, que parece estar em forma e mais disciplinado tacticamente, o Quaresma, que precisa de muitos ensaios para que uma jogada lhe saia bem (e isso na selecção não resulta) e o C. Ronaldo, que é bom jogador, mas insuficiente para colmatar as lacunas da equipa.
Por fim, até o Scolari está cada mais parecido com o Toni. Este, quando começou a perder mais do que a ganhar, inventou aquela de dizer:”Perdi o jogo, mas ganhei uma equipa”. O Scolari ainda não diz bem isso, mas quase: “Perdi o jogo, mas ganhei dois jogadores”. É pouco!

AINDA A DESCIDA DO IVA


A QUEM BENEFICIA?

Ainda sobre a descida do IVA, duas notas mais.
Primeira – Constâncio, em declaração passada na televisão, manifestou-se contra recentemente; alguma vez Constâncio, de há trinta e tal anos a esta parte, se manifestou favorável a algo que não implicasse sacrifício para os mais necessitados?
Segunda – Esta diminuição de impostos não vai afinal beneficiar quem menos contribuiu para a redução do deficit? Será que os preços vão baixar na mesma proporção ou serão antes os lucros que irão subir na medida da descida ?

CUSTO DA CAMPANHA ELEITORAL NA AMÉRICA SUPERA PIB DE ALGUNS PAÍSES AFRICANOS


O CUSTO DA CAMPANHA ELEITORAL NA AMÉRICA

A oito meses do termo da disputa eleitoral, os candidatos à Casa Branca já terão arrecadado e gasto, até ao fim de Março, cerca de 1 bilião de dólares (mil milhões de dólares, segundo a nossa denominação). Ou seja, um pouco mais que o PIB de sete países africanos: S. Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Gâmbia, Comores, Seicheles, Libéria e Djibuti.
Mas não adianta fazer moral. As coisas são como são. Resta-nos a esperança de que venha a ser eleito um presidente capaz de contribuir para uma mudança positiva no mundo…

SARKOZY EM LONDRES E CARLA BRUNI, NUA, EM LEILÃO


A VISITA DE SARKOZY A LONDRES


A visita de Estado de Sarkozy a Londres, depois do recente desaire eleitoral, serviria para ele de certo modo refazer sua imagem de homem público um pouco mais ao gosto dos franceses e também para afirmar a esposa como respeitável primeira-dama.
Mas logo por azar, a Christie’s anunciou um leilão, em Abril, do retrato nu de Carla Bruni, passando esse a ser o tema dominante da visita.
Ele há dias em que não se pode sair de casa!

LEMBRANÇAS DA GUERRA FRIA

A PROPÓSITO DO MAIO 68

O Nouvel Observateur, na sua edição em tempo real, está a publicar o dia-a-dia do “Maio de 68”, entre 22 de Março e 30 de Junho, conforme já referi em post anterior. Não deixa de ser interessante, à distância de 40 anos, ler algumas das notícias mais importantes então publicadas pela revista.
Atentemos nesta: “A liberdade de imprensa é essencial”, diz Nicolau Ceausescu. A afirmação terá sido proferida em Bucareste pelo todo-poderoso Primeiro secretário do Partido Comunista da Roménia no decurso de uma reunião de secretários regionais.
A revista francesa transcreve as palavras de Ceausescu sem o menor comentário crítico, mas fá-las anteceder de duas considerações interessantes. A primeira é a seguinte: “Fiel a uma certa independência do seu país face a Moscovo ….”. E a segunda, também interessante, reza assim: ”Note-se que a Roménia não assistiu à conferência que, no sábado passado, em Dresden, reuniu os países do Pacto de Varsóvia...
Ceausescu, muito estimado, principalmente na Europa Ocidental, entre todos os que se opunham a Moscovo, era consabidamente um tirano.

O IVA DESCE 1%

A DESCIDA DO IVA

Em conferência de imprensa, o Primeiro Ministro, José Sócrates, acaba de anunciar o montante apurado do défice orçamental do ano passado, 2,6%, e a descida do IVA em 1% , previsivelmente a partir de 1 de Julho, como consequência do êxito da política de consolidação das contas públicas. Para o ano em curso, ainda segundo o Primeiro Ministro, o défice orçamental esperado será de 2,2%.
O que os portugueses esperam não é a reposição dos impostos ao nível de 2002, ano do chamado descontrolo das contas públicas, porque isso seria pedir o óbvio, mas um aumento nos seus rendimentos reais, de modo a que a promessa tantas vezes formulada, de que tudo seria diferente com as contas públicas controladas, possa finalmmente concretizar-se!

terça-feira, 25 de março de 2008

À ATENÇÃO DOS SOIXANT-HUITARDS

MAIO DE 68

O Nouvel Observateur, na sua edição em tempo real, publicará, de 2 de Março a 30 de Junho, Le Quotidien de 1968.

AINDA O ACORDO ORTOGRÁFICO

A CRÓNICA DE VASCO PULIDO VALENTE
Em crónica sobre o acordo ortográfico, VPV, no Público da passada sexta-feira, concluiu que o barulho feito a propósito da sua ratificação não serve para nada, já que ele não resolve qualquer problema e, por isso, morrerá depressa. Estou de acordo com a conclusão, que, de resto, eu já tinha adiantado na terça-feira passada.
E não serve para nada, porque ele não impede a divergência entre o português de Portugal e português do Brasil, que se manifesta em domínios muito mais profundos que os decorrentes da grafia.
Que esta divergência existe em vários domínios ninguém o poderá negar. Questão diferente é saber quando começou, que causas tem e por que se acentuou. Saber quando começou a divergência que se manifesta no plano da escrita, não será muito difícil de averiguar, nomeadamente as divergências gráficas, sintácticas e semânticas. Já não direi o mesmo das fonéticas por ausência de registos fonográficos…
Muito mais difícil será conhecer as causas da divergência. Obviamente, que temos sobre o assunto uma opinião, mas a mais elementar prudência impõe que a não adiantemos. De que vale uma opinião? Se tivéssemos formulado uma hipótese e depois, através do estudo de múltiplos dados empíricos, dispuséssemos de material suficiente para fazer comparações, formular generalizações, etc., talvez a opinião se pudesse transformar em hipótese de trabalho e, quem sabe, mais tarde, em tese.
VPV diz que o inglês falado e escrito em meio mundo (não será bem meio, sempre há a China, a Rússia, a América Latina, para não falar na Índia que não fala inglês) não diverge tanto, ou quase não diverge, por causa do protestantismo e da tradução da Bíblia de 1611, a king James Bible, “que por todo o mundo foi o centro do culto e o livro em que se aprendia a ler.” Além de que, houve uma literatura clássica, que vai de Shakespeare a T.S. Eliot e de Hawthorne a Fiztgerald, considerada património comum, e em que, por isso mesmo, se não tocava.
Confesso a minha ignorância: não sei se a explicação adiantada para a não divergência do inglês não passa de uma opinião ou se é muito mais do que isso – se é uma conclusão resultante de interessantes estudos que alguém terá feito.
Mas dizer que entre Portugal e o Brasil não há uma tradição literária comum é que me parece excessivo. E tentar demonstrar a afirmação dizendo que Vieira não é um autor que se partilhe, que Eça é demasiado indígena, pior ainda, lisboeta ou que Pessoa é de difícil exportação, parece-me uma grande leviandade só possível em quem não conhece minimamente o Brasil.
Na verdade, com excepção de Fernão Lopes, tudo o que na literatura portuguesa tem verdadeiro nível internacional é publicado no Brasil, em inúmeras edições, nas divulgadíssimas colecções de bolso. E os autores publicados, Gil Vicente, Camões, Sá de Miranda, Vieira, Bocage, Herculano, Garrett, Camilo, Eça, Pessoa, Florbela Espanca, Saramago, etc., para não falar dos autores brasileiros anteriores à independência, como Gregório de Matos e Tomaz Gonzaga, entre outros, não divergem ou quase não divergem dos clássicos da literatura brasileira, como Castro Alves, José de Alencar, Machado de Assis, Lima Barreto ou mesmo dos mais recentes, como J.C. de Melo Neto, Manuel Bandeira, Carlos Drumont de Andrade e Cecília Meireles. E mesmo aqueles que fizeram da diferença e do apelo às especificidades tipicamente brasileiras a razão de ser da sua literatura, como Mário de Andrade e Alcântara Machado, não divergem assim tanto dos clássicos da língua portuguesa. Isto tudo para dizer que, se a razão da convergência do inglês é a existência de um património clássico comum, então vai ter de se encontrar outra justificação para a divergência do português.

O PRESIDENTE DO FCP NÃO TEM QUALQUER PESO NA CONSCIÊNCIA

PINTO DA COSTA FOI ACUSADO DE CORRUPÇÃO ACTIVA DESPORTIVA


O presidente do FCP foi acusado de corrupção activa desportiva, quando já tudo fazia supor que o processo em questão iria ter a sorte de tantos outros relacionados com a batota no futebol. Nomeadamente, com os instaurados na sequência das escutas relativas a episódios ocorridos nos “anos dourados”, os famosos “quinhentinhos”, que se saldaram pela condenação de um árbitro que serviu de vítima para que tudo pudesse continuar na mesma. Por isso, a reacção não se fez esperar. “Quando soube que ia ser pronunciado, pedi a Deus para que fique provada a inocência daqueles que estão a dizer a verdade, mas também que (re)caiam as maiores desgraças sobre aqueles que estão a mentir”. E acrescentou: “Não tenho qualquer peso na consciência.”
Este Deus de Pinto da Costa, pelo menos, é tão fixe como o guarda Abel!

segunda-feira, 24 de março de 2008

JONH McCAIN ESTEVE POR DUAS VEZES PARA INTEGRAR O PARTIDO DEMOCRÁTICO

AS HETERODOXIAS DE JOHN McCAIN
Segundo a edição digital do NYT, o candidato republicano, nos últimos sete anos, esteve por duas vezes para ingressar nas fileiras do partido democrático.
A primeira vez foi em 2001, depois da eleição de George W. Bush. Não se revendo na política do Partido Republicano, protagonizada pela Administração Bush, o Senador do Arizona terá tido conversas naquele sentido com Edward Kennedy e a John Edwards. O jornal, porém, não contem qualquer confirmação destes Senadores. Apenas uma declaração do antigo líder democrata no Senado, Tom Daschle, que diz: “Ele considerava-se um autêntico pragmático”.
A segunda vez ocorreu em 2004, quando John Kerry se apresentou como candidato democrático na eleição que iria confirmar o segundo mandato de Bush. John McCain ter-se-á oferecido como vice-presidente. Kerry também não confirmou estas conversações, mas o jornal assegura que antigos responsáveis da campanha de Kerry reconheceram que o Senador do Arizona se mostrou disponível para integrar o “ticket” democrático.
As desavenças de McCain com Bush são conhecidas. Na verdade, ele chegou a patrocinar com E. Kennedy o fracassado projecto de lei para regularização da situação de 12 milhões de imigrantes ilegais e foi um dos três senadores republicanos que votou contra a redução de impostos proposta por Bush por não estar acompanhada da conseqüente redução da despesa.
É de admitir que, na actual conjuntura, a revelação destes factos não seja prejudicial a McCain, podendo, inclusive, favorecê-lo, não obstante a irritação que os mesmos seguramente provocarão nas hostes neocons.

sábado, 22 de março de 2008

QUATRO PARTICIPANTES NO ATAQUE A RAMOS HORTA ENTREGARAM-SE HOJE

AINDA OS ACONTECIMENTOS DE 11 DE FEVEREIRO EM TIMOR

Segundo Xanana Gusmão, quatro militares rebeldes que atentaram contra a vida do Presidente de Timor, Ramos Horta, entregaram-se hoje às forças de segurança, nos arredores de Aileu.
De acordo com a imprensa australiana, os quatros rebeldes teriam reconhecido a sua participação nos eventos de 11 de Fevereiro.
Continuam, porém, a monte muitos outros. Só com a prisão de Gastão Salsinha se poderá fazer alguma luz sobre o que realmente se passou. Vamos aguardar. Aguardar principalmente que Salsinha possa ser julgado...

O ANIVERSÁRIO DA CIMEIRA DOS AÇORES

A OPINIÃO DE JPP

JPP insurge-se com o tratamento jornalístico dado pela RTP ao quinto aniversário da Cimeira dos Açores. Que a trata como se tivesse sido um crime.
Não vi o telejornal da RTP. Mas não sei o que se pode esperar do tratamento histórico de um evento no qual se acordou a perpetração de um crime. Ou JPP acha que a invasão do Iraque é um acto de que alguém se possa orgulhar? De facto, só JPP, Bush, Dick Cheney e companhia se podem vangloriar de tal feito.
De JPP tudo se pode esperar. Até a veemente condenação da intervenção da NATO na Jugoslávia e, anos mais tarde, o apoio incondicional à invasão do Iraque. E depois o Menezes é que é errático!

sexta-feira, 21 de março de 2008

A AGENDA DE HILLARY CLINTON

A PUBLICAÇÃO DA AGENDA DEIXA MUITAS DÚVIDAS

H. Clinton, em diversas ocasiões da campanha, invocou ter muita mais experiência do que Obama para desempenhar o cargo de presidente, já que, durante os oito anos de presidência do marido, ela havia sido muito mais do que uma simples primeira dama.
Em virtude de pressões de vários lados, incluindo obviamente do lado de Obama, a Senadora acedeu por fim a tornar públicas as cerca de onze mil páginas da sua agenda como primeira dama.
Todavia, a agenda demonstra que as viagens feitas por Hillary, durante os mandatos do marido, obedeceram a um programa típico de primeira dama.
Demontra também que mudou de opinião relativamente a assuntos que têm estado agora na ordem do dia da campanha, como o Tratado Norte-americano de Comércio Livre.
Por outro lado, assuntos melindrosos para os Clinton, como o escândalo Whitewater e as relações com Johnny Chung foram eliminados da agenda, o que levou Chris Farrell, feroz adversário dos Clinton, a dizer que os documentos agora publicados foram branqueados.
Como conclusão fica a ideia de que a publicação da agenda não obecedeu a um propósito de transparência, mas a uma pressão, inclusive judicial, que não poderia por mais tempo ser suportada.

GOVERNADOR DO NOVO MÉXICO APOIA OBAMA

BILL RICHARDSON APOIA OBAMA

O primeiro governador hispânico dos Estados Unidos, Bill Richardson, governador do estado do Novo México, num correio electrónico dirigido aos seus apoiantes, comunicou-lhes que apoiaria Barack Obama. No mesmo texto, convidou H. Clinton a retirar-se e a cerrar fileiras com Obama para assegurar a vitória dos democratas nas próximas eleições.
"Obama", disse "seria um presidente histórico e grande, que trará a mudança que tão desesperadamente necessitamos para nos reunificarmos como nação e com os nossos aliados estrangeiros".
Este apoio é de grande importância para Obama, pois, como se sabe, os hispânicos têm votado maioritariamente por H. Clinton. Mas é importante ainda, porque Richardson é amigo dos Clinton, dos quais guarda "todo o afecto e admiração".

quinta-feira, 20 de março de 2008

SOBRE A INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS ELEITORAIS EM ESPANHA

A VITÓRIA DO PSOE NA CATALUNHA E NO PAÍS BASCO

Sobre a vitória do PSOE na Catalunha e no País Basco, ver artigo do catedrático de Teoria do Estado, Andrés de Blas Guerrero, no El País de 18 de Março, muito próxima da interpretação aqui perfilhada no post de 10 de Março.
De facto, os catalães e os bascos não votaram em Zapatero para impedir a vitória do PP, mas porque a sua política satisfaz, no essencial, as pretensões dos autonomistas e nacionalistas daquelas regiões.
Em tempo (posterior)
Uma e outra interpretação fazem politicamente toda a diferença.
Na aqui defendida, a agenda política relativa às questões territoriais seria marcada por Zapatero em toda a sua amplitude, enquanto na interpretação baseada na bipolarização, a agenda política ficaria muito condicionada pela chantagem do PP relativamente a esas mesmas questões. Como, de resto, aconteceu na primeira legislatura Zapatero.

SOBRE A CRISE FINANCEIRA INTERNACIONAL

A OPINIÃO DE PAUL KRUGMAN
Toda a gente terá lido o artigo de Alan Greenspan, publicado no Financial Times e depois reproduzido nos jornais de todo o mundo, sobre a crise financeira internacional. Convem também conhecer o ponto de vista do Professor de Economia da Universidade de Princeton, Paul Krugman, publicado no NYT e depois reproduzido no El País.
De facto, a economia real, que já se defronta com o desafio da globalização, não pode ficar à mercê desta economia financeira especulativa, de casino, expandida durante a Administração Clinton e consolidada, ao nível da barbárie, com Bush.
Os neoliberais, como Greenspan, grande responsável pela actual crise, acreditam que tudo não passa de uma questão de modelos de avaliação dos riscos financeiros. Ou seja, se os modelos fossem mais sofisticado, capazes de captar a quntidade de variáveis que dirigem a economia mundial, tudo seria diferente...
Entretanto, quem paga são os contribuintes e os agentes da economia real, enquanto os especuladores de Wall Street já estão a preparar a próxima...

quarta-feira, 19 de março de 2008

O DISCURSO DE OBAMA

A RAÇA COMO TEMA DE CAMPANHA

O discurso de Obama, em Filadélfia, sobre a raça como tema de campanha, é seguramente o momento mais alto das primárias e ficará para a história como um ponto de viragem da política americana.

AINDA A CRISE DO BENFICA

O PAPEL DO PRESIDENTE DO BENFICA
A crise do Benfica é antiga e profunda. Ver em post anterior como começou e como se desenvolveu. Luís Filipe Vieira já demonstrou suficientemente que não tem competência para dirigir o futebol do Benfica. Provavelmente, também lhe faltam atributos para dirigir o clube. Como, porém, tem ainda à sua frente vários meses de mandato que quererá cumprir até ao fim, vai ser necessário desencadear uma forte campanha de opinião destinada a fazê-lo aceitar alguns modelos de comportamento destinados a impedir que o Benfica se afunde ainda mais na crise em que está mergulhado.
No imediato, terá de ser nomeado um director desportivo, com provas dadas, a quem seja atribuída competência e meios para escolher rapidamente um treinador e preparar a nova época, sem perder de vista o objectivo ainda possível: segundo lugar no campeonato!A escolha do director desportivo deve apontar para alguém com curriculum no sector, que conheça bem o clube e se identifique com ele. Alguém que, em conjunto com o treinador, seja capaz de refazer a grandeza do clube e de transmitir aos jogadores uma mensagem de confiança e de orgulho por poderem servir o maior clube português.Vieira terá de respeitar as competências, calar-se o mais possível, aprender a conviver com opiniões e escolhas diferentes das suas. Aprender a presidir a um clube popular e democrático. É a única forma que tem de terminar com dignidade o seu mandato!

terça-feira, 18 de março de 2008

DUAS NOTAS SOBRE O ACORDO ORTOGRÁFICO

O QUE NOS SEPARA

Em matéria de língua, a única coisa que nos liga ao Brasil é a grafia, com ou sem Acordo Ortográfico. No resto, tudo nos separa, nomeadamente a fonética, a estrutura da frase e a oralidade.
Com ou sem acordo ortográfico, vamos continuar a divergir. Se um português falar coloquialmente no Brasil, como fala em Portugal, ele não será compreendido pela generalidade dos brasileiros. O mais provável é ouvir: “Oi”? E vai ter de repetir até ser entendido, sendo-o tanto mais depressa quanto mais adaptar a estrutura da sua frase à brasileira.
A fonética é muito diferente, mas não é o maior obstáculo. O maior obstáculo está na estrutura da frase, e isso é particularmente notado na oralidade. No dia em que os escritores brasileiros ou os jornais mais influentes passarem a reproduzir na escrita a oralidade - o que já hoje é feito por alguns escritores e por alguns jornais, pelo menos, em certas secções ou cadernos –, será mais cómodo e mais agradável para todos os portugueses, e não apenas para alguns, que conheçam línguas, ler aquele mesmo texto traduzido em francês, inglês ou espanhol do que no português em que está escrito.
O acordo, ao contrário do que se diz, pouco unifica a grafia, já que um número enormíssimo de vocábulos continuará com dupla grafia, a de lá e a de cá. Digamos, que apenas se unifica o que pode ser unificado “sem dor”, principalmente do lado brasileiro.
Quer isto dizer que nos deveremos opor ao Acordo? Pelo meu lado, quer apenas dizer que o Acordo não resolve qualquer problema, porque o problema que existe - e existe – não pode ser resolvido com normas jurídicas!

segunda-feira, 17 de março de 2008

AS GRAVES DISTORSÕES DO MÉTODO PROPORCIONAL

A REPARTIÇÃO DOS MANDATOS LEGISLATIVOS EM ESPANHA

São conhecidas as explicações para a iníqua repartição dos mandatos legislativos em Espanha – concentração dos votos em dois grandes partidos, características das circunscrições territoriais que servem de base à eleição, e concentração dos votos dos partidos nacionalistas ou regionalistas em poucas, às vezes só duas, circunscrições eleitorais. O que interessa, porém, são soluções.
É, de facto, inadmissível que um partido com cerca de um milhão de votos eleja apenas dois deputados enquanto os partidos com onze e dez milhões elegem, respectivamente, 169 e 153. Ou que um partido com apenas 335 mil votos eleja 11 deputados, somente porque tem esses votos concentrados numa região do país, com três ou quatro circunscrições eleitorais.
O método de Hondt sempre potencia injustiças. Sabe-se por experiência própria. Se se consegue conviver com elas, com maior ou menor custo, em países onde só há partidos nacionais, elas tornam-se inaceitáveis em países onde partidos regionais concorrem com os nacionais.
Tais injustiças só podem ser atenuadas aumentando-se ligeiramente o número de deputados a eleger e criando com esse aumento um círculo nacional que recolha todos os votos não tenham servido para eleger deputados.
É que vai ter que se fazer em Espanha para não “expulsar” do sistema cerca de 5% dos eleitores e também para permtir que os eleitores votem realmente em quem querem votar.

CAUSAS DA CRISE FINANCEIRA

A CRISE FINANCEIRA

Veja aqui as causas da crise financeira internacional e os seus próximos desenvolvimentos.

A CRISE DO BENFICA


UM MAL QUE VEM DE LONGE

A crise do Benfica tristemente evidenciado com os recentes episódios da demissão de Camacho e da desprestigiante derrota frente a uma equipa do meio da tabela da Liga espanhola, que no segundo jogo praticamente jogou com a segunda equipa, é um mal que vem de longe e só não foi ainda mortal porque o Benfica tem um património tão valioso e uma história tão rica que lhe permitem resistir mais do que seria normal em qualquer outra equipa.
Tudo começou com a incapacidade do clube se adaptar duradoiramente ao novo contexto do futebol português a partir do começo da década de oitenta do século passado. O último presidente do velho estilo, Fernando Martins, conseguiu ainda assegurar a hegemonia futebolística do clube, muito por força da contratação de um jovem e ambicioso treinador que, à semelhança de Otto Glória, cerca de trinta anos antes, inovou o futebol do Benfica e permitiu-lhe lançar as bases para a construção de um clube moderno.
A seguir a Fernando Martins, não obstante a tenaz resistência de Gaspar Ramos, como director do departamento de futebol, o Benfica entrou num plano inclinado, pese embora a presença em duas finais da Taça dos Campeões Europeus e de um ou outro título a nível interno. O contexto em que se jogava passou a ser cada vez mais adverso, a diversos níveis, e os vários presidentes que o Benfica teve não souberam gizar e pôr em prática uma estratégia capaz de fazer frente a esse novo contexto, sabiamente alicerçado em alianças várias, muitas vezes flutuantes, e a cumplicidades de toda a ordem, todas elas orientadas no sentido de assegurar vitórias, qualquer que fosse o meio a que se tivesse de recorrer para as alcançar.
Se durante este período, João Santos foi uma espécie de Rainha de Inglaterra a quem faltou um primeiro-ministro capaz de governar, seguidamente com Jorge Brito houve uma espécie de regresso ao passado que deixou o clube ainda mais à margem de tudo o que de importante se passava no futebol português. Depois, com Damásio, o clube bateu no fundo, cuja escolha para presidente do Benfica é só por si ilustrativa do nível de degradação institucional e desportiva a que o clube chegou. Damásio tem a mais ruinosa gestão da história do Benfica e deixou o clube mergulhado numa crise de que ainda não saiu. A passagem de Vale e Azevedo pelo Benfica, posto que assentasse numa estratégia destinada a fazer frente à hegemonia que entretanto já se tinha consolidado, de que são exemplos mais frisantes a constituição da SAD, a declaração de nulidade dos contratos celebrados com a Olivadesportos, uma nova política de comunicação e a inovação no plano desportivo com a contratação de um jovem e promissor treinador, acabou por fracassar não apenas em consequência da deplorável situação económico-financeira herdada gestão anterior, que muito facilitou a vida à oposição (algumas vezes aliada aos adversários clube, como aconteceu no caso Olivadesportos), mas também, como depois se demonstrou, pela existência de uma agenda paralela que o presidente simultaneamente accionava em proveito próprio.
Seguiu-se o período que os benfiquistas queriam fosse o da regeneração: financeira, desportiva e do prestígio nacional e internacionalmente perdido. Com Vilarinho no comando, o Benfica voltou a passar por grandes humilhações desportivas (a pior classificação de sempre, ausência das competições europeias, despedimento de um treinador brilhante – imagine-se, só porque o “seu” treinador tinha de ser do Benfica!) e mais uma vez se revelou um clube à deriva, sem estratégia e sem rumo. Na SAD foi colocada uma personalidade que ninguém conhecia nem no mundo dos negócios, nem no do futebol, salvo uma episódica passagem por um clube satélite do Benfica, no qual teve a particularidade de se aliar ao adversário principal do Benfica e de com ele conspirar contra o Benfica. Vilarinho saiu como entrou: sem honra, nem glória, não obstante a muita propaganda à volta do seu nome. Foi naturalmente substituído por quem gozava da confiança dos credores do clube – os bancos – cada vez mais endividado, também em consequência da construção do novo estádio.
Com Luis Filipe Vieira à frente operaram-se mudanças significativas na fisionomia, quase diria, no ADN do clube. O Benfica, clube popular e democrático, que sempre viu os seus dirigentes eleitos no quadro de confrontos eleitorais – sempre, mesmo durante a ditadura – foi resvalando para um clube de gestão autocrática, autoritária, sem lugar a qualquer outra opinião ou ponto de vista que não fosse a do chefe. E, pela primeira vez na sua história, o Benfica tem um presidente eleito numa eleição sem concorrentes!
Com Vieira foi-se ganhando tempo, sem nada de muito substancial se ter feito no plano desportivo. Primeiro, com Camacho, como treinador durante cerca de ano e meio, estancou-se a espiral de compra-dispensa-compra-ás vezes, venda de jogadores – e estabilizou-se relativamente o plantel, embora sem vitórias significativas, mas com o regresso do clube às competições europeias. A seguir a Camacho, pela primeira vez, com um esboço de organização e estratégia, o clube conseguiu ser campeão com Trappattoni (já não era há onze anos), muito por mérito da dupla Veiga-Trappattoni, e mercê também de uma época atípica: primeiro não ter chovido durante todo o campeonato e depois porque se vivia a efervescência gerada pelo “apito dourado”, que não permitia as conhecidas manobras de épocas anteriores. Seguiram-se Koeman e Fernando Santos como treinadores, com Veiga já em queda, e com intervenções cada vez mais despropositadas e destabilizadoras do presidente em áreas de que nada sabe. Com a saída de Veiga, por motivos pessoais e depois incompatibilizado com o presidente, o clube ficou novamente à deriva, como se tornou manifesto na forma caótica como foi preparada a época em curso. Com um Fernando Santos incapaz de fazer frente á disparatada gestão desportiva de Vieira e sem ter quem o protegesse minimamente, pode dizer-se que ele caiu para assegurar a permanência do presidente. Numa jogada tipicamente demagógica, o presidente foi contratar Camacho, idolatrado por largos sectores da massa associativa, que ligavam – e justamente – à pessoa de Camacho o começo de regeneração do clube. Mas também Camacho, meses depois, não resistiu ao caos e ao deserto que Vieira criara à sua volta. Basta recordar que, numa intervenção estupidamente suicidária, o presidente anunciou que um jogador do plantel seria no próximo ano o director desportivo do clube, quiçá o seu presidente, criando mais um grave foco de instabilidade num plantel tão pouco coeso quão conhecido entre os elementos que o compunham.
O que se seguirá está à vista de todos: o Benfica vai novamente entrar num grave plano inclinado no campo desportivo com perigosas repercussões noutros domínios. E hoje, consolidada que está a “acumulação primitiva” do seu principal rival, o desafio que ao Benfica se coloca é muito mais sério do que aquele que teve de enfrentar até aqui. Por isso, requerem-se medidas urgentes e radicais. O passado dos últimos vinte anos demonstra que o Benfica precisa:
Separar a presidência e a gestão da SAD da presidência do clube. O presidente do clube, sem prejuízo de ser escolhido em eleições, deverá ser tanto quanto possível uma figura consensual, fundamentalmente destinado a uma função representativa e a gerar a coesão entre os associados e simpatizantes. A ele lhe caberá, dada a posição maioritária do clube na SAD, escolher o presidente desta.
O presidente da SAD do Benfica deverá reunir as seguintes características:
Em primeiro lugar, perceber de futebol.
Em segundo lugar, ser um gestor da área desportiva.
Em terceiro lugar, ser uma personalidade com capacidade de intervenção política.
A escolha dos demais membros da SAD deverá ficar a cargo do presidente, mas a sua composição deverá individualmente reflectir as valências exigidas àquele.
Quando se diz que o presidente tem de perceber de futebol, pretende-se dizer que ele não poderá ficar completamente nas mãos do director desportivo no que respeita à escolha do treinador e dos jogadores. Ele tem de dar o seu aval a essas escolhas com conhecimento de causa e, para isso, terá de perceber de futebol. Mas, perceber de futebol significa ainda conhecer os meandros do futebol português: conhecer as organizações de que o clube é membro, conhecer os demais clubes e os seus modos de actuação e saber ainda desenvolver uma política de alianças (que, como se sabe, não se faz apenas com palavras, mas com actos, nomeadamente empréstimo de jogadores, etc.).
A capacidade de gestão terá de ser a mesma que se exige numa qualquer empresa com a dimensão do Benfica, tendo, neste caso, especialmente em conta a natureza do objecto empresarial.
Finalmente, capacidade de intervenção política significa antes de mais saber pôr em prática uma política de comunicação, tanto no interior do Benfica, como nos meios de comunicação social. Mas significa também capacidade para falar nos media e com os jornalistas, enfim, alguém com capacidade persuasiva…

AINDA A POLITIZAÇÃO DA JUSTIÇA

O QUE SE PASSA EM ESPANHA

O que dirão os nossos constitucionalistas, que receiam ver nalgumas decisões dos nossos tribunais administrativos exemplos de politização da justiça, das seguintes situações ocorridas em Espanha.
Em Maio de 2003, o Supremo Tribunal de Justiça de Espanha ordenou ao Parlamento do País Basco a dissolução do grupo parlamentar Sozialist Abertzale. A Mesa negou-se a fazê-lo, invocando o princípio da separação de poderes. Depois de uma complicada tramitação que não interessa agora descrever, o mesmo tribunal condenou o Presidente da Mesa, Juan María Atutxa, por desobediência.
Ao que tudo indica muito brevemente uma sentença semelhante dissolverá o grupo parlamentar do Partido Comunista das Terras Bascas, sendo de esperar que o Parlamento Basco se recuse novamente a cumpri-la, desta vez por decisão do próprio plenário e não por decisão da Mesa.
O outro caso diz respeito a uma sentença do Tribunal Superior de Andaluzia que admitiu como relevante a objecção de consciência de um dos pais de um aluno para a não frequência por este das aulas da disciplina de Educação para a Cidadania, lei geral do país, aprovada em 2006 e aplicável em todas as regiões e comunidades…
A Educação para a Cidadania, que visa dar a conhecer aos jovens os valores constitucionais, os direitos universais e os princípios estruturantes do estado de Direito democrático, tem sido objecto de grande contestação por parte da hierarquia da Igreja e da direita. Depois da sentença do tribunal de Andaluzia, e apesar de haver outras três de outros tantos tribunais superiores (Aragão, Astúrias e Catalunha) que negam aquela possibilidade, a Comunidade de Madrid, governada por Esperanza Aguirre (candidata à sucessão de Rajoy) e a Região de Múrcia passaram a boicotar abertamente aquela lei, admitindo a objecção de consciência como razão suficiente para a dispensa da frequência, tendo a Comunidade Valenciana ido ainda mais longe ao aprovar que as aulas sejam optativas e em inglês!

A FRENTE RIBEIRINHA

VETO OU COLABORAÇÃO INSTITUCIONAL?
Afinal, segundo Mário Lino, Ministro das Obras Públicas, a devolução, pelo Presidente da República, do decreto-lei que iria permitir a transferência para os municípios da gestão das zonas ribeirinhas que têm estado sob a jurisdição das autoridades portuárias, não é feita ao abrigo do veto presidencial, mas da colaboração institucional entre o Presidente da República e o Governo.
Constitucionalmente, se houver veto, ele tem de ser fundamentado. Se esta formalidade não foi cumprida, juridicamente não há veto, sem prejuízo de, politicamente, a decisão do Presidente da República poder andar lá muito próximo.
Não se conhece o teor do diploma aprovado pelo Governo para promulgação, mas sabe-se que há departamentos da Administração Pública que deram parecer negativo, a Comissão do Domínio Público Marítimo (Ministério da Defesa) e Instituto Nacional da Água (Ministério do Ambiente). Esta notável função da Administração – que é a de defender o Estado contra a acção do Governo – é nos nossos dias cada vez menos exercida, em consequência do modo como são escolhidos os dirigentes.
A possibilidade de a gestão das zonas ribeirinhas passar para os municípios, como iria acontecer em Lisboa, ao abrigo do Protocolo de Intenções assinado entre o Governo e a Câmara de Lisboa, abriria, mais tarde ou mais cedo, caminho para uma especulação desenfreada mesmo que os terrenos se mantivessem no domínio público. Hoje há cada vez mais maneiras de caçar ratos…
As colaborações beneméritas, que, pelos vistos, logo surgiram para a coordenação da gestão das zonas ribeirinhas desafectadas do domínio público marítimo, vão ter que esperar…

sábado, 15 de março de 2008

PRESIDENTE DO EQUADOR MANDA CALAR BUSH



AINDA SOBRE A INTERVENÇÃO DAS TROPAS COLOMBIANAS NO EQUADOR

O presidente dos Estados Unidos, George Bush, responsabilizou o presidente do Equador, Rafael Correa, pela presença das FARC em território equatoriano. Rafael Correa, que em anteriores intervenções já tinha confessado a impossibilidade de o Equador controlar a fronteira da selva amazónica, desafiando a Colômbia a fazê-lo, respondeu agora ao presidente americano no mesmo registo, mas mais incisivamente: “Que o senhor Bush traga os seus soldados, que os seus soldados morram na fronteira colombiana! Vamos ver se os cidadãos dos Estados Unidos aceitam tamanha barbaridade. Se não, cale a boca e tente entender o que está a acontecer na América Latina”.
Pois é, isto já não é o que era. Bush foi ao petróleo e já não tem capacidade para, simultaneamente, controlar o jardim das traseiras da casa como outrora…

A CORRIDA Á CASA BRANCA



A FLORIDA PODE IR DE NOVO A VOTOS

A Florida e o Michigan foram punidos pelo Partido Democrático por terem desrespeitado as regras estabelecidas no seio do partido, com o apoio de todos os estados, quanto à data das eleições. As eleições realizadas em Fevereiro passado foram antecipadamente declaradas nulas. Por isso, no Michigan, Obama nem fez campanha, nem figurou nos boletins de votos, ao contrário de H. Clinton. Na Florida ambos os candidatos fizeram campanha e ambos figuravam nos boletins de voto. H. Clinton ganhou, mas a eleição não foi validada, não tendo em consequência sido designados delegados.
Muito por insistência de H. Clinton, que admite ter na Florida apoio maioritário, tem sido feita pressão para que as eleições se repitam. O grande obstáculo à abertura de uma nova campanha é o seu preço. As finanças dos candidatos estão exauridas e uma campanha na Florida não ficaria por menos de 50 milhões de dólares. Por outro lado, tanto o partido a nível estadual, como o partido a nível federal já puseram de parte a possibilidade de a financiar pelas mesmas razões. Surgiu então uma ideia que vai ser apresentada à direcção do partido e que deverá ter uma resposta no próximo dia 12 de Abril: votação por correspondência a 3 de Junho.
Obama, que teme a fiabilidade do voto por correspondência – o passado de eleições na Florida deixa muito a desejar -, não tem muito por onde escolher, já que a outra alternativa é a validação das eleições de Fevereiro. Esta alternativa, que tem sido tentada por H. Clinton e pelos sectores do partido na Florida que a apoiam, nunca colheu até hoje o apoio da direcção central do partido.
A solução que vier a ser encontrada para a Florida valerá muito provavelmente para o Michigan.

quinta-feira, 13 de março de 2008

OLHA QUE COISA MAIS LINDA

DO CORREIO BRASILIENSE

Seixas da Costa, Embaixador de Portugal em Brasília, de passagem pelo Rio de Janeiro para participar nas solenidades comemorativas dos 200 anos da chegada da Corte ao Brasil, foi abordado por um estudante que provocatoriamente o interpelou: “Então, Embaixador, o Senhor não acha que se o Brasil tivesse sido colonizado pelos holandeses seria hoje um país muito mais próspero?”. Resposta do Embaixador. “Então, você queria cantar a Garota de Ipanema em holandês?”

CONTRA A DITADURA DO RELATIVISMO

EM ESPANHA, A IGREJA CONTINUA A LUTA


Depois da vitória de Zapatero no passado domingo e da troca de cumprimentos com o recém-eleito presidente da Conferência Episcopal Espanhola, Varela Rouco, admitia-se que a Igreja cessasse de combater, ou, pelo menos, atenuasse a sua cruzada contra as leis do Estado, recentemente confirmadas pelo voto popular. Houve até quem, com mais optimismo, tivesse depreendido da carta que Rouco enviou a Zapatero, depois das eleições, o começo de uma nova era.
Pouco tempo foi necessário passar para que uma conhecida figura dos sectores mais radicais da hierarquia eclesiástica espanhola, Antonio Cañizares, Cardeal de Toledo, confirmar a um jornal italiano, que a Igreja não tem por que se censurar por ter combatido o Governo do PSOE. “Não somos contra a democracia, mas a favor dela. Quem nega o direito à vida é que está contra a democracia e conduz a sociedade ao desastre”.
Para este Cardeal, a Espanha de hoje é a vanguarda da revolução relativista, sobretudo depois de o governo socialista ter aprovado leis que “negam a evidência da natureza e da razão, que confiam ao Estado a formação moral dos jovens, (leis) que se propõem fundar uma nova cultura baseada numa concepção falsa de liberdade”.
Esta luta contra a “ditadura do relativismo” encabeçada por Bento XVI tem muitas semelhanças com as posições doutrinais dos neocons americanos da Administração Buch, também elas muito influenciadas pelo crescente papel desempenhado pelas Igrejas evangélicas na vida política. Tanto eles como o Papa estão firmemente convencidos da sua concepção da verdade e, por isso, dispostos a impô-la aos outros (no caso de Bush, a ferro e fogo). Na verdade, Raztinger é de opinião que há valores pré-democráticos que emanam da natureza da convivência social e que devem informar a posterior construção do consenso. É ele, Papa, quem o diz. “O Estado deve aprender que existe uma base de verdade que não pode ser comprometida pelo consenso, mas que o antecipa e o torna possível”.
Com mais ou menos elaboração teórica Papa, neocons e fundamentalistas islâmicos, no plano dos princípios, não andam longe uns dos outros.

quarta-feira, 12 de março de 2008

A OPINIÃO DE ANALISTAS POLÍTICOS AMERICANOS

OBAMA OU HILLARY CLINTON, QUEM TEM MAIS HIPÓTESES DE VENCER JOHN McCAIN?


Para conhecer um conjunto de opiniões de analistas políticos americanos, ver interessante artigo da Real Clear Politics.

A CORRIDA À CASA BRANCA

DEPOIS DO MISSISSIPI
Segundo a CNN, depois das primárias do Mississipi, Barack Obama tem 1611 delegados(1404 pledged e 207 superdelegados) e H. Clinton 1480 (1243 pledged e 237 superdelegados).
Se estas contas estiverem correctas, haverá 352 superdelegados, que ainda não decidiram o seu voto ou não disseram em quem vão votar, e estarão ainda em disputa 689 delegados com mandato imperativo, i.e.,comprometidos com o voto popular (pledged), nas seguintes eleições:
  • 22 de Abril - Pelsilvânia - 188 delegados
  • 3 de Maio - Guam - 9 delegados
  • 6 de Maio - Indiana - 84 delegados
  • 6 de Maio - Carolina de Norte - 134 delegados
  • 13 de Maio - Virgínia Ocidental - 39 delegados
  • 20 de Maio - Oregon - 65 delegados
  • 20 de Maio - Kentucky - 60 delegados
  • 3 de Junho - Montana - 24 delegados
  • 3 de Junho - Dakota do Sul - 23 delegados
  • 7 de Junho - Porto Rico - 63 delegados

A CORRIDA À CASA BRANCA

PONTO DE SITUAÇÃO
Segundo a CNN, Barack Obama tem 1597 delegados (1391 pledged e 206 superdelegados) e Hillary Clinton 1470 (1232 pledged e 238 superdelegados).

AS PRIMÁRIAS NO MISSISSIPI



NOVA VITÓRIA DE OBAMA

Segundo as projecções, Obama deverá vencer as primárias de Mississípi (33 delegados), continuando, assim, à frente em número de delegados, de estados e também no voto popular.
Geraldine Ferraro, primeira mulher a concorrer à vice-presidência dos EUA, apoiante de H. Clinton, muito em sintonia com o que tem sido a campanha da Senadora, sugeriu hoje ao jornal californiano The Daily Breeze of Torrance que Obama está onde está na corrida presidencial por ser preto!
Se Obama fosse um homem branco, ele não estaria nesta posição. E se fosse mulher (de qualquer cor) também não estaria”.
A primeira parte da afirmação insere-se muito bem na campanha que tem vindo a ser feita contra a personalidade do candidato. A segunda parte para ser logicamente compreendida precisa de explicações. Quererá Geraldine dizer que se Obama fosse Hillary e Hillary Obama, Obama não ganharia por ser Hillary? Bem, agora já se percebe por que razão Geraldine foi derrotada…

terça-feira, 11 de março de 2008

A METRÓPOLE QUE NUNCA EXISTIU




MYTHOS GERMANIA

A partir do próximo dia 15 de Março, em Berlim, a exposição Mythos Germania recriará a metrópole do nazismo, idealizada por Hitler e Albert Speer, o arquitecto do Reich, num pavilhão próximo do monumento que hoje homenageia as vítimas do holocausto.
A exposição, que estará aberta até ao final do ano, mostra os planos urbanísticos, concebidos por Hitler e executados por Speer, destinados a mudar radicalmente a cidade de Berlim. Tais planos, que vêm pormenorizadamente descritos nas memórias de Speer, nunca foram concretizados e são ainda hoje, à distância de 70 anos, o exemplo mais acabado da megalomania de Hitler.
A ideia de transformar Berlim numa grande capital mundial levou-a conceber o chamado “Grande Pavilhão” com uma altura de 290 metros e um Arco de Triunfo de proporções gigantescas.
Junto aos projectos de Speer poderá ver-se como tudo terminou: o centro de Berlim destruído e a Teufelsberg (a Montanha do Diabo), uma colina formada pelos destroços dos edifícios destruídos pelas bombas e que ainda hoje é o ponto mais alto da capital.
No estertor do Nazismo, poucos dias da tomada do Bunker pelo Exército Vermelho, Hitler dizia (sem humor) a Speer, na última visita que este lhe fez, que, com a destruição do centro de Berlim, ficava mais fácil a execução do grandioso projecto arquitectónico concebido para transformar a capital (segundo relato de Speer a Joaquin Fest).
Speer, que durante a guerra foi ministro do Armamento, foi julgado em Nuremberga e condenado a 20 anos de cadeia. Morreu em Londres em 1981.

AINDA...QUANDO O TELEFONE TOCA




A MENINA DO ANÚNCIO DA CAMPANHA DE HILLARY DIZ APOIAR OBAMA

A menina que aparece no anúncio da campanha de Hillary, que tanta celeuma provocou, diz apoiar Obama. Na verdade, o anúncio utiliza imagens antigas de Casey Knowles, hoje com 17 anos (ver "O telefonema", post de 8 de Março)
O anúncio vende o medo, recorre a algo fácil, barato. Realmente, prefiro a mensagem de Obama, de olhar com esperança rumo a um futuro brilhante”, afirmou Casey a várias redes de televisão americanas, ABC, NBC e CNN.
A jovem disse ainda que as imagens foram gravadas para a publicidade de uma empresa ferroviária quando ela tinha 8 anos.
É irónico que a minha imagem seja utilizada para defender a causa de H.Clinton, quando eu não a defendo”, disse ainda.

AS PRIMÁRIAS NO MISSISSIPI


OBAMA DESCARTA SER VICE DE H. CLINTON

Barack Obama classificou hoje de “jogada táctica” a sugestão da sua oponente para a formação de uma lista conjunta. “Não estou a disputar a vice-presidência. Estou a disputar o cargo de Presidente dos Estados Unidos da América”, disse o Senador, durante um comício no Mississípi (33 delegados), um dos estados mais pobres da União, onde amanhã há eleições. E acrescentou: “Não percebo como é que alguém que está em segundo lugar oferece a vice-presidência a alguém que está em primeiro lugar!”.
Barack ironizou ainda, lembrando que Bill Clinton, 1992, havia dito que o único critério válido para a designação do Vice-Presidente é que a pessoa escolhida seja apta para desempenhar as funções de comandante-chefe, caso tenha de substituir o Presidente. “Então, se eles passaram as últimas três semanas a dizer que eu não tinha experiência para aquele cargo, como poderia ser um bom vice-presidente?”
Hillary Clinton, que já fez campanha no Mississípi, está a centrar as suas atenções na Pensilvânia (188 delegados), que tem eleições marcadas para 22 de Abril, onde segundo as sondagens está à frente com 12 pontos de vantagem sobre o Senador de Illinois.
Segundo a CNN, Obama tem neste momento 1527 delegados contra 1428 de H. Clinton e vai também à frente no número de estados ganhos e no voto popular.

segunda-feira, 10 de março de 2008

AINDA AS LEGISLATIVAS EM ESPANHA



A VITÓRIA DE ZAPATERO

A vitória do PSOE, com Zapatero à frente do Governo, deita por terra a tese, tantas vezes difundida pela “outra Espanha”, tanto lá, como cá, de que a política de negociação com a ETA (de que o Governo a partir do atentado de Barajas se afastou) e a política territorial, principalmente a da Catalunha, levariam mais tarde ou mais cedo à desagregação da Espanha. Zapatero teve a coragem de trazer para a agenda política do Governo alguns assuntos que estavam mal resolvidos desde a transição ou, no mínimo, tendo em conta as condições em que a transição se operou, mal resolvidos para uma parte da Espanha. Refiro-me a questão da ETA, à questão territorial, à reabilitação das vítimas do franquismo (lei da memória) e ao laicismo. E, no plano internacional, também não hesitou em ordenar a retirada das tropas espanholas do Iraque, conforme havia prometido na campanha eleitoral e, de resto, correspondia à vontade maioritária do eleitorado, mesmo sabendo que ao cumprir esta promessa ganhava a animosidade de alguém tão poderoso como George Buch.
Ao pôr em prática esta política defrontou-se com a crispada oposição de toda a direita, desde logo da que actua institucionalmente no plano político – o PP, que nunca aceitou a derrota de 2004 - mas também da que actua no quadro de poderosos poderes fácticos, como a hierarquia da Igreja, a organização das vítimas do terrorismo, altamente politizada pelo PP, e importantes meios de comunicação social. Uma oposição como nunca terá havido em Espanha desde a transição.
O eleitorado, porém, deu-lhe razão e premiou a sua coragem. Não apenas por esta política, mas também pela sua política económico-social. E a análise dos resultados eleitorais demonstra que a política de Zapatero, assente na pluralidade, no reconhecimento da diferença, na ampliação das autonomias, não desagregou a Espanha, mas, pelo contrário, a reforçou.
Toda a gente se recordará do nível de crispação e da intensidade dos conflitos deixados por Aznar, principalmente na sua relação com as comunidades históricas, mas não apenas com estas. Não havia relações entre o Governo central e o Pais Basco, a ETA estava muito activa, com um número de atentados nunca antes igualado, as relações com a Catalunha estavam à beira da rotura e o conflito com a Andaluzia, que a bem dizer não tem independentistas, já se assemelhava ao das comunidades históricas. Como consequência desta política, o PP, em 2004, perdeu as eleições em toda a Andaluzia, na Estremadura, em toda a Catalunha e Aragão e, como sempre, no Pais Basco. Os partidos independentistas e autonomistas, pelo contrário, reforçaram a sua votação e o número de deputados.
Em 2008, com quatro anos de política de Zapatero, o PSOE foi a força política mais votada nas três províncias do Pais Basco, mesmo em Viscaya, onde nunca tinha ganho e em Guipuscoa, onde só tinha ganho em 1996. Foi igualmente a força política mais votada em todas as províncias da Catalunha e de Aragão, como já tinha acontecido em 2004, ganhou em Andaluzia, com excepção da Província de Almeria, ganhou na Estremadura, nas Baleares, nas Canárias, em todas as ilhas, nas Astúrias e em Leon. Os partidos nacionalistas, pelo contrário, recuaram na Catalunha e no Pais Basco. O PP manteve a sua importante influência em Castela -la- Mancha, em Castela (a Velha), na Galiza, na Cantábria, em Rioja e em Navarra.
A Esquerda Unida teve a sua pior votação de sempre. Como partido nacional, foi a principal vítima da bipolarização, mas também do sistema proporcional em vigor. Basta dizer que, nas eleições de ontem, com 963.040 votos elegeu 2 deputados, enquanto a Coligação Canária elege os mesmos 2 com 164.255 votos, o Bloco Nacionalista Galego também 2 com 209.042 votos, a Esquerda Republicana da Catalunha 3 com 296.473 votos, o Partido Nacionalista Basco 6 com 303.246 votos e a Convergencia e União 11 com 334.717 votos.

domingo, 9 de março de 2008

PSOE GANHA AS ELEIÇÕES EM ESPANHA SEM MAIORIA ABSOLUTA



O PSOE VAI TER DE FICAR COM A “NIÑA” RAJOY

Pois já não há dúvidas, o PSOE (169 deputados) ganhou as eleições legislativas espanholas e reforçou o número de deputados. O PP (154) reforçou a sua base eleitoral e o número de deputados, mas por margem inferior, acentuando-se assim a bipolarização.
Os grandes perdedores são a Esquerda Unida (3), que perde votantes, deputados (2) e o próprio grupo parlamentar e a Esquerda Republicana da Catalunha (3), que perde 5 deputados.
O Bloco Nacionalista Galego (2) e a Convergencia e Union (10), que mantêm o mesmo número de deputados, resistem à bipolarização, contrariamente à coligação EAJ-PNV (6), que perde um deputado.
Zapatero não alcança, porém, a maioria absoluta (176), e, embora fique com a “niña” de Rajoy a seu cargo, vai ter de encontrar, entre os seus possíveis aliados, quem dela também se ocupe sempre que seja necessária uma votação por maioria absoluta.

POLITIZAÇÃO DA JUSTIÇA?



CANOTILHO TEME POLITIZAÇÃO DA JUSTIÇA

No Público do dia 8 de Março vem uma pequena, porém, preocupante notícia. A notícia que dá o título a este post.
Diz o jornal: Canotilho teme que os tribunais comecem a politizar a justiça. Foi esta a ideia que defendeu anteontem à noite num colóquio organizado pela Fundação Serralves, no Porto. “Isso mesmo parece estar a anunciar-se pelas próprias orientações da justiça administrativa”, afirmou Gomes Canotilho, que lembrou a contestação pela via judicial de várias políticas públicas na área do ensino e da saúde. Acrescenta ainda o jornal: o constitucionalista alertou para este problema e defendeu que a função do juiz não é esta. “Os juízes não servem para serem órgãos de transformação social”.
No colóquio esteve ainda presente o ex-bastonário dos Advogados, José Miguel Júdice.
Com todas as cautelas decorrentes de uma errada interpretação de quem escreveu a notícia ou da sua involuntária descontextualização, parece-me, mesmo com estas reservas, que ela merece um comentário
A notícia é preocupante por vir de quem vem. Gomes Canotilho é efectivamente um reputado constitucionalista e um homem a quem a democracia e Estado de Direito, no plano teórico, muito devem.
Para quem tem presente a lembrança de 48 anos de “Estado Novo”, que politizou a justiça de acordo com as suas conveniências e transformou os tribunais (uns mais do que outros) em órgãos políticos do Governo, a simples ideia de que se possa estar novamente à beira de uma politização da justiça não deixa de ser preocupante. Permito-me, todavia, duvidar que haja motivo para preocupações nos termos em que foram apresentadas.
Muito sumariamente, nós podemos dizer que há uma politização da justiça ou um risco de politização se:
· Os tribunais invadirem a área de competência do Legislativo;
· Os tribunais invadirem a competência do Governo, nos domínios em que a actuação deste, por ser de natureza exclusivamente política ou baseada em puros critérios de oportunidade, escapa ao controlo e fiscalização dos tribunais.
· Há ainda politização da justiça, quando o Governo controla e condiciona a actuação dos tribunais impedindo-os de funcionar com imparcialidade e independência ou quando o Poder Legislativo adoptar medidas, jurisdicionalmente sancionadas – já veremos por quem –, que ponham igualmente em causa a imparcialidade e a independência dos tribunais.
· Há também politização da justiça quando nem todos possam ter acesso a ela em condições de igualdade, por o Legislativo não criar os mecanismos necessários para assegurar, na prática, a igualdade dos cidadãos perante a lei. E que tem como consequência aquilo a que o Bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho e Pinto, na sua incisiva linguagem, chama: “Uma justiça forte para com os fracos e fraca para com os fortes
· Finalmente, haverá politização da justiça quando o órgão supremo sancionador da constitucionalidade das normas – o Tribunal Constitucional – não actuar como um órgão jurisdicional, mas como um órgão político do Governo ou de outra força política, disfarçando a sua conduta através de uma aparente judicialização da sua actuação. A nomeação, para juiz constitucional, de militantes partidários, conhecidos pela sua incondicional fidelidade aos partidos de que provem constitui seguramente um indício muito seguro de que muito provavelmente a justiça será politizada.
Esta situação e a negação, na prática, da igualdade de acesso dos cidadãos à justiça são as duas formas mais ameaçantes da politização da justiça em Portugal, com a agravante de, estando o Tribunal Constitucional politizado, se criarem ipso facto todas as condições para que o Legislativo, quer quando exercido pelo Governo, quer quando exercido pelo Parlamento, politize a justiça.
Não tenho notícia de que as duas primeiras situações acima referidas ocorram em Portugal.
De facto, quem conhece a jurisprudência dos tribunais superiores não encontra exemplos de ingerência do Jurisdicional no Legislativo. Tal ingerência ocorreria se houvesse um desenvolvimento judicial do direito superador da lei susceptível de violar o princípio da separação de poderes. Digamos, em linguagem de blog, que esse desenvolvimento judicial do direito superador da lei só ocorrerá naqueles casos em que, sendo o tribunal chamado a resolver uma questão não prevista na lei, mas que mereça uma resposta jurídica, o faça mediante recurso a considerações não especificamente jurídicas, ou seja, quando a sua decisão for ditada por razões de oportunidade ou quando a tal resposta exigisse uma regulamentação pormenorizada do assunto tratado, regulamentação essa que somente o Legislativo tem competência e legitimidade para levar a cabo. Insisto, não tenho conhecimento de situações destas na jurisprudência portuguesa. Igualmente se desconhecem ingerências do Jurisdicional no domínio exclusivamente político do Legislativo, como aconteceu em Espanha, com as famosas sentenças que obrigam o Parlamento Vasco a dissolver os grupos parlamentares de partidos ilegalizados.
Também não tenho conhecimento de que os tribunais, nomeadamente os administrativos, invadam a competência do Executivo em áreas que lhe estão vedadas como é o caso dos “Actos de Governo” e dos “Actos praticados ao abrigo do poder discricionário”, na parte, cada vez mais reduzida, em que não são jurisdicionalmente sindicáveis. O que os tribunais têm feito, infelizmente apenas alguns tribunais, é verificar se na sua actuação o Governo não viola os princípios estruturantes do Estado de Direito, que obrigam a Administração a uma actuação regida pelos princípios da igualdade, da proporcionalidade, da justiça e da imparcialidade, ou se não viola a lei, nomeadamente a constitucional, que proíbe a aplicação de leis ou a interpretação e aplicação de leis que lesem o conteúdo essencial de um direito fundamental ou, ainda, se o Governo se não desvia dos fins em vista dos quais aqueles poderes lhe foram conferidos. Uma actuação mais criteriosa dos tribunais exigiria também uma fiscalização sobre se a solução encontrada pelo Governo é a que melhor serve os interesses do caso concreto. Ou seja, o interesse público e o interesse privado. Os particulares têm o direito de exigir um uso correcto do poder discricionário e um uso correcto é o que atende equitativa e proporcionalmente aos interesses em presença.
Não conheço, repito, exemplos de politização da justiça neste domínio. O que acontece é que o Governo de cada vez que um tribunal suspende ou anula uma decisão sua entra em pânico e começa a clamar contra a politização da justiça. E se esta gritaria não der resultado, então o que lhe ocorre, como acontece com todos os governos arrogantes e com tiques autoritários, é mudar a lei. Se isso viesse a acontecer estaríamos perante um retrocesso democrático de consequências incalculáveis.
A difícil e muito lenta viragem da justiça administrativa tem, em grande medida, a sua origem no Código de Processo Administrativo vigente. Este Código deveria, principalmente num país como Portugal tão falho de vivência democrática, constituir um motivo de orgulho para o Governo que o aprovou ou para o Ministro que o promoveu. É certo que sem António Costa na Justiça muito provavelmente não haveria código, pois não é segredo para ninguém que ele é hoje visto pelo Governo do mesmo partido que então governava como um filho espúrio, concebido por um Governo minoritário, in articulo mortis, já sem capacidade de controlar a agenda parlamentar.
Este Código é no dizer dos seus autores materiais o passo que faltava dar para a constitucionalização da justiça administrativa em Portugal!