segunda-feira, 10 de março de 2008

AINDA AS LEGISLATIVAS EM ESPANHA



A VITÓRIA DE ZAPATERO

A vitória do PSOE, com Zapatero à frente do Governo, deita por terra a tese, tantas vezes difundida pela “outra Espanha”, tanto lá, como cá, de que a política de negociação com a ETA (de que o Governo a partir do atentado de Barajas se afastou) e a política territorial, principalmente a da Catalunha, levariam mais tarde ou mais cedo à desagregação da Espanha. Zapatero teve a coragem de trazer para a agenda política do Governo alguns assuntos que estavam mal resolvidos desde a transição ou, no mínimo, tendo em conta as condições em que a transição se operou, mal resolvidos para uma parte da Espanha. Refiro-me a questão da ETA, à questão territorial, à reabilitação das vítimas do franquismo (lei da memória) e ao laicismo. E, no plano internacional, também não hesitou em ordenar a retirada das tropas espanholas do Iraque, conforme havia prometido na campanha eleitoral e, de resto, correspondia à vontade maioritária do eleitorado, mesmo sabendo que ao cumprir esta promessa ganhava a animosidade de alguém tão poderoso como George Buch.
Ao pôr em prática esta política defrontou-se com a crispada oposição de toda a direita, desde logo da que actua institucionalmente no plano político – o PP, que nunca aceitou a derrota de 2004 - mas também da que actua no quadro de poderosos poderes fácticos, como a hierarquia da Igreja, a organização das vítimas do terrorismo, altamente politizada pelo PP, e importantes meios de comunicação social. Uma oposição como nunca terá havido em Espanha desde a transição.
O eleitorado, porém, deu-lhe razão e premiou a sua coragem. Não apenas por esta política, mas também pela sua política económico-social. E a análise dos resultados eleitorais demonstra que a política de Zapatero, assente na pluralidade, no reconhecimento da diferença, na ampliação das autonomias, não desagregou a Espanha, mas, pelo contrário, a reforçou.
Toda a gente se recordará do nível de crispação e da intensidade dos conflitos deixados por Aznar, principalmente na sua relação com as comunidades históricas, mas não apenas com estas. Não havia relações entre o Governo central e o Pais Basco, a ETA estava muito activa, com um número de atentados nunca antes igualado, as relações com a Catalunha estavam à beira da rotura e o conflito com a Andaluzia, que a bem dizer não tem independentistas, já se assemelhava ao das comunidades históricas. Como consequência desta política, o PP, em 2004, perdeu as eleições em toda a Andaluzia, na Estremadura, em toda a Catalunha e Aragão e, como sempre, no Pais Basco. Os partidos independentistas e autonomistas, pelo contrário, reforçaram a sua votação e o número de deputados.
Em 2008, com quatro anos de política de Zapatero, o PSOE foi a força política mais votada nas três províncias do Pais Basco, mesmo em Viscaya, onde nunca tinha ganho e em Guipuscoa, onde só tinha ganho em 1996. Foi igualmente a força política mais votada em todas as províncias da Catalunha e de Aragão, como já tinha acontecido em 2004, ganhou em Andaluzia, com excepção da Província de Almeria, ganhou na Estremadura, nas Baleares, nas Canárias, em todas as ilhas, nas Astúrias e em Leon. Os partidos nacionalistas, pelo contrário, recuaram na Catalunha e no Pais Basco. O PP manteve a sua importante influência em Castela -la- Mancha, em Castela (a Velha), na Galiza, na Cantábria, em Rioja e em Navarra.
A Esquerda Unida teve a sua pior votação de sempre. Como partido nacional, foi a principal vítima da bipolarização, mas também do sistema proporcional em vigor. Basta dizer que, nas eleições de ontem, com 963.040 votos elegeu 2 deputados, enquanto a Coligação Canária elege os mesmos 2 com 164.255 votos, o Bloco Nacionalista Galego também 2 com 209.042 votos, a Esquerda Republicana da Catalunha 3 com 296.473 votos, o Partido Nacionalista Basco 6 com 303.246 votos e a Convergencia e União 11 com 334.717 votos.

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