sábado, 29 de março de 2008

A DIREITA PORTUGUESA BEM PENSANTE NÃO TEM VERGONHA


A CRÓNICA DE VPV NO PÚBLICO
Toda a gente sabe o que foi a guerra no Iraque:
Primeiro – Uma monstruosa violação do direito internacional, baseada em mentiras destinadas a justificar o crime a cometer – guerra de agressão;
Segundo – Uma guerra responsável pela morte de dezenas ou centenas de milhares de iraquianos e de milhares de soldados invasores;
Terceiro – Uma guerra que fez alastrar para zonas até então seguras o fundamentalismo islâmico, bem como o terrorismo que normalmente o acompanha;
Quarto – Uma guerra que liquidou o Iraque como potência regional, fortaleceu a República Islâmica do Irão e destabilizou por muitos anos os anteriores equilíbrios regionais;
Quinto – Uma guerra de espoliação, como o insuspeitíssimo Alan Greenspan recentemente confirmou ao confessar que a causa da guerra foi o petróleo.
Perante estes factos, que quase ninguém de bom senso hoje contesta (até Durão Barroso, que tanto beneficiou com o apoio que deu à guerra, se recusa hoje a defendê-la ou a justificá-la), o que nos diz a direita portuguesa bem pensante?

Vasco Pulido Valente, com a leviandade e a leveza de que faz gala em todos os seus escritos jornalísticos, afirma que, sem a América, o Médio Oriente pode com facilidade deslizar para uma guerra generalizada, por isso se justifica a sábia proposta de J. McCain de ficar no Iraque por mais cem anos, se for necessário! E depois, para “justificar” esta avisadíssima proposta mete-se, como é seu hábito, numas despropositadas comparações (que só ele faz) da situação actual com descolonização ou com a guerra do Vietname para subsequentemente concluir que, se semelhanças existem, elas sê-lo-ão, imagine-se!, com o I século do Império Romano ou o Império Britânico do século XIX. Tudo isto para legitimar (palavra porventura forte para um niilista, como VPV) a continuação da guerra por mais cem anos, já que dinheiro é coisa que não deve faltar!
Francamente, para um cronista que simultaneamente ostenta o título de historiador formado na sábia e vetusta escola de Oxford, esta dissertação sobre a guerra do Iraque e a sua continuação parece-me paupérrima! De facto, por muito vivificante que tenha sido historicamente a experiência republicana e imperial de Roma, não há comparação possível entre a segurança do “limes”romano e a situação no Iraque. Não será com legiões de mercenários, como VPV propõe, nem com acordos com os “bárbaros” da periferia que o império americano evita a desordem e assegura a “pax”, como se está a ver, nem, depois, a derrota! De resto, o Império Romano também não a evitou…Da comparação com o Império Britânico do século XIX, menos ainda adianta falar, já que ela é ainda mais despropositada.
A situação do Iraque não carece de comparações para ser compreendida. Ela é o que toda a gente vê que é, como já foi compreendido pelos polacos, pelos ucranianos, pelos ingleses e obviamente pelos americanos. Por isso, dizer que dinheiro é coisa que não deve faltar para continuar a guerra ou que a guerra é, na América, um assunto de somenos, só se justifica em alguém que, habitando o Gambrinus, desconhece por completo o que se passa à sua volta!

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