quinta-feira, 18 de junho de 2009

CARLOS CANDAL


UMA VITÓRIA PIONEIRA

Carlos Candal faz parte do meu imaginário académico. Quando cheguei a Coimbra, no rescaldo da crise académica de 1962, já Candal estava a estagiar em Aveiro. Mas acontece que foi ele, depois de muitos anos de domínio da direita, que ganhou as eleições para a Associação Académica de Coimbra, em 1960/61. E a partir daí o ambiente académico de Coimbra jamais seria o mesmo. No ano seguinte, a vitória já foi mais fácil e a esquerda nunca mais perdeu as eleições até ao 25 de Abril. Foi reprimida, compulsivamente transferida de universidade ou expulsa, instaladas comissões administrativas nomeadas pelo fascismo, dirigidas por “respeitáveis democratas” da II República, mas sempre que houve eleições, a esquerda ganhou!
E Candal, na Coimbra do meu tempo, beneficiava dessa auréola. O homem capaz de convencer as freiras a deixar votar as meninas que elas aprisionavam mal o sol se punha. O “diplomata”capaz de captar o voto de quem ainda não queria verdadeiramente opor-se ao salazarismo. Depois, a luta académica evolui muito e rapidamente. Radicalizou-se. A guerra colonial ajudou. Mas Candal deixou escola: cerca de dez anos mais tarde, a direcção de Alberto Martins é a continuação do mesmo estilo numa outra época.
Em Coimbra nunca vi Candal. Conheci-o, em 1969, no Segundo Congresso Republicano de Aveiro. Muitos anos mais tarde, numa recepção oferecida por Mário Soares, comentei com ele jocosamente o “Manifesto anti-Portas em português suave”, que acabara de publicar…

6 comentários:

jvcosta disse...

Enviei hoje aos meus amigos, tu incluido, um pequeno texto sobre Candal. Vou reproduzi-lo aqui, embora com a consciência de que poderá ser lido como antipático. Longe disso! Estou convencido de que este meu texto revela o valor que sempre terá para mim a memória de Candal.

"Morreu o Candal. Nunca tive contacto pessoal com ele, mas é uma figura muito marcante na minha vida. É o homem das magnas de 62 que foram o meu compromisso definitivo com a política. Não me importo que fosse uma figura tipicamente coimbrã, com o que isto tem de um pouco ridículo. Que fosse um tribuno um pouco pomposo e vazio. Que depois tivesse sido um político com quem não tinha afinidades. Morreu, mas sinto que ele fica nas minhas memórias de juventude."

Ana Paula Fitas disse...

Caro JMCorreia Pinto,
Deixei, no A Nossa Candeia, um post que lhe é, também, dirigido.
Abraço.

aminhapele disse...

Como sabes,também já o não conheci como dirigente.
Para nós,que entrámos em 61-62,foi uma "figura"!
Tinha,finalmente,conseguido dar a Associação aos estudantes,a esquerda tinha a sua casa e,não menos importante,deixou-nos um "Relatório e Contas" intocável e que nos serviu de "bíblia" durante uns anos.
Embora em caminhos políticos distintos,mantive contacto pessoal,com Carlos Candal durante vários anos(tive um processo em que o Tó Rocha foi meu advogado e Candal o da parte contrária).
Quando foi estudante,para convencer as freiras do Lar do Penedo,de certeza que não tinha um estilo tão troglodita como aquele que exibiu como político...
Um abraço.

M.C.R. disse...

Deixei em incursoes.blogs.sapo.pt um texto sobre o Candal que conheci bem e que estimei. Tinha defeitos mas convém, na hora da verdade, pesá-los contra as virtudes. E a história! E na história, como bem dizes, caríssimo Zé, o Carlos Candal deixou uma pegada muito forte. aliás, mesmo como político é bom não esquecer que foi fundador do PS indo do interior até à Alemanha o que é um risco. Fez parte da organização dos Congressos de Aveiro o que diz muito e se era um pouco arruaceiro também é verdade que as ouvia iguais e imperturbável.
Representa uma certa época tribunícia mas de coragem clara o que não é pouco neste tempo merdoso em que os políticos passam de animais ferozes a "Bambi" (Vasco Pulido Valente, sic) no espaço de uma eleição.
Eu que me fiz cidadão nessa Coimbra de 60 em que o Candal presidia á AAC não consigo esquecer a dívida de gratidão que tenho para com ele e para com um forte número de pessoas que estavam com ele. Desde o Alegre ao Silva Marques, desde o Rui Namorado ao Mário Brochado Coelho. Agora, que cada um está no seu canto acho que valeu a pena: é para isso, para se poder escolher o nosso lugar que existe a democracia. O resto é balivérnia de quem nunca arriscou o pelo. E o Candal arriscou.

aminhapele disse...

É bom vir aqui.
Reencontrei o Marcelo!
Um abraço,companheiro.

Osvaldo Castro disse...

Fiz link para Praça Stephens.
Abraço.